Opinião

Os 3 D’s diferentes num mesmo povo

Há dias foi conhecido o estudo “Pobreza em Portugal – Trajetos e Quotidianos”, coordenado pelo Prof. Fernando Diogo. O nome do estudo dá bem substância aos testemunhos que o estudo contempla - é um ativo humanista lê-los! Não vou nestes breves caracteres repisar os indicadores. Preocupam-me mais as causas e a nossa dificuldade coletiva em os resolver.

O estudo apresenta-se com os 3 D’s “Doença, Divórcio e Desemprego”, que caracterizam os pobres do século XXI. Tamanha pobre analogia com os 3 D’s do 25 de abril: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. Ao fim de 47 aos de democracia, com a massificação do acesso à educação e à saúde, continuamos com 1/5 da população portuguesa pobre.

É pobre quem trabalha? Baixos salários e baixa qualificação, numa região onde predominam os empregos dependentes do setor primário e de tarefas não qualificadas. Mais de 60% da população empregada ganha menos que 800€.

Embora estejamos a atingir níveis de qualificação de conclusão do nível secundário muitos interessantes, muito à custa do ensino profissional (modalidade a que se exige reformulação) e do ensino superior (muito ainda falta fazer neste campo, tal como a gratuitidade do ensino superior), ainda temos um longo caminho a percorrer para a qualificação e consequente valorização dos recursos humanos.

O salto na valorização salarial é emergente e que deve ser acompanhado pela qualificação e formação de cada trabalhador e por uma melhor distribuição da riqueza gerada - enalteço o exemplo da Auchan pela distribuição dos resultados da empresa em 2020, que equivale a uma média de dois salários e meio por cada trabalhador.

Os testemunhos presentes no estudo realçam a preocupação de que é tão difícil sair da pobreza tal como a facilidade que é o de entrar nela. As pessoas estão em estado de pobreza pelas mesmas razões pelas quais entraram. Lendo esta conclusão deveria ser fácil uma pessoa sair da pobreza, identificando-se a causa e resolvendo-a. Mas não é! O Governo de direita nos Açores irá sentir essa realidade. Aliás, temo que já a sente com o aumento do número de beneficiários de RSI, já fora do tempo dos Governos Socialistas.

A infância tem um peso na definição dos percursos de vida que condiciona não só o dia à dia da criança, mas a sua vida adulta e os seus filhos, se não existirem pontos de rotura. Uma infância dura é muito difícil de ser ultrapassada. Muitos não conseguem. Seguem-se os números da pobreza.

Pelo que, a educação e formação ao longo da vida e o acompanhamento na infância são ações que fazem a diferença.

Estratégias para a educação, qualificação profissional e apoio à infância devem estar focadas nos cidadãos que dela necessitam e nunca em princípios ideológicos ou com objetivos eleitorais. Pelos 3 D’s do 25 de abril, hoje Portugal deveria ter outro retrato. Conseguiremos honrar os 3 D’s do abril de 74?

Viva para sempre o 25 de abril!