Um calafrio. Se ele há coisa que ninguém gosta sequer de olhar é para um capitão embaraçado em plena tempestade oceânica, hesitante e atrapalhado. Um arrepio é o que nos toma e a sensação é de desamparo total. O terrível sonho de que estamos mesmo a cair e nada mais há a fazer senão esperar o nosso fim, efetivamente estatelados num terrível descampado que nos aguarda ou, se com sorte, salvos por alguém que não aguentava mais ver-nos sofrer e que, com mãos de Deus, nos agarra. Suores frios. Ao leme, um governo atrapalhado e hesitante, tão perentório nas decisões quanto no recuo das mesmas. Navegando à vista e sem rota como ao sabor dos ventos cruzados da opinião pública. A confusão é geral. Quem mandamos vacinar? E agora? Dos mais velhos para os mais novos, das mais pequenas ilhas para as maiores, primeiro os lares ou primeiro as escolas? E se antes forquem por ali quiser aparecer? Quais as escolas que encerramos, abrimos ou que afinal reabrimos? Que Atividades de Tempos Livres afinal fecham ou não reabrem?!... E num rasgo de indecisos, aí vão eles, pequeninos para a escola. Pequeninos para a escola, mas alto lá! Não há cá intervalos!...E os mais graúdos? Ah, e os mais graúdos também, é claro, está decidido, afinal de contas precisam muito de se preparar para os exames de admissão ao ensino superior......Os mais graúdos também, mas atenção, não é assim à balda, é com regras, e exatamente iguais para todos, tenha a escola dez alunos e sem casos nas redondezas, tenha ela trezentos alunos e uma pandemia ainda não controlada... ...e não há cá comidinha na escola para ninguém! Porque aqui há critério! Isto é critério, humilde e transparente, rigoroso e científico!... Comer é em casa, meu jovem. E se em casa não for fácil, tem lá uma conversinha de pé de orelha com os teus pais, se os tiveres, é claro, e se não der, melhores dias virão, meu rapaz, há que ter paciência para aceder aos apoios governamentais, não é só assim, sem a coisa pública bem controlada!
Minha nossa...Em nenhuma massa cinzenta de um qualquer cientista governamental se faz luz e então percebe de que a ida à escola é mesmo muito mais do que a ida às aulas? Senhor capitão da caranguejola: há crianças encerradas em casa aos meses passando profundas e caladas dificuldades. O acesso a um computador não é mais a questão central, como o foi há um ano, senhor capitão. Há agora questões subcutâneas, escondidas, envergonhadas e com efeitos muito mais nefastos, que se aprofundaram no seio das famílias coartadas da escola presencial há tantos meses. Da mais simples problemática de um jovem atravessar longos e cruciais períodos da sua adolescência confinado em seu quarto como se de um prisioneiro se tratasse, à mais profunda, quando a esta se junta a ausência daquilo a que chamamos de bens essenciais. Não faz isto parte da rigorosa fórmula científica porquê? Se da própria mente não fica fácil, que copiem ao menos pelo parceiro do lado, porque eu cá tenho mesmo a certeza de que nem os encarregados de educação nem os professores vigilantes se irão de algum modo importar. E garantirão muitos mais votos, senhor capitão...