Aconteceu há dias uma situação que eu nunca esperei ver. Confesso que tive de a rever para não tirar conclusões precipitadas. A verdade é que quanto mais revia, mas impressão me fazia.
O responsável pelo acompanhamento da pandemia nos Açores, ao lado dos responsáveis governativos da saúde na nossa Região, decidiu livremente desabafar o que lhe ia na alma. E o que lhe ia na alma era uma revolta sobre o que um jornal da nossa praça tinha, também livremente, reportado.
Não me faz confusão ele não concordar com a peça jornalística, o que me faz confusão é ver alguém com grandes responsabilidades voltar a censurar a imprensa da forma como o fez.
Tendo eu este espaço de opinião, confesso que não ficaria bem comigo mesmo se não censurasse publicamente este comportamento que se quis abolido do nosso País há muitos anos. Não me sentiria bem comigo mesmo se não repudiasse aquela que foi a postura do atual Governo Regional e do seu Presidente. Não ficaria de consciência tranquila se não dissesse que achei estranho o silêncio de alguns sobre este acontecimento pidesco na nossa Região.
A ser verdade que Bolieiro realmente sente aquilo que disse sobre esse acontecimento, e sendo ele Presidente do Governo, não devia ter dado a cara como deu. Tinha era dado um murro na mesa e exigido que publicamente os três protagonistas pedissem desculpa pelo péssimo serviço que prestaram à democracia.
Nunca esperei ver um Presidente em exercício, ao mesmo tempo que diz valorizar a liberdade de imprensa e a independência dos jornalistas, não repudiar aquela atitude diminuindo a situação a um simples erro humano.
Não é a primeira vez que aqueles três protagonistas atacam pessoas e organizações que mostram ter opiniões contrárias. Se não é com telefonemas é com mensagens nas redes sociais que se tornaram públicas.
Muito sinceramente, sob pena de termos um Presidente colado a esse tipo de atitudes, o que se esperava era um ponto final inequívoco substituindo na mesma hora quem sem pudor as toma.
E sei que não estou sozinho. Diz-se à boca pequena que o PSD em São Miguel também desejou o afastamento imediato da pessoa em questão e que foi Artur Lima que não deixou.
Um Governo numa democracia é demasiado importante para ser tolerante com atitudes desta natureza.
(Crónica escrita para Rádio)