Há dias que decorre a operação “Periferia” em 5 ilhas. A operação é bem-vinda às ilhas sem hospital, o mesmo é dizer é bem-vinda aos Açores. Porém, os contornos da decisão da operação está envolta em opacidade.
Veja-se: a 14 de maio o Vice-Almirante Gouveia e Melo confirmava, em resposta a Lara Martinho, deputada do PS/Açores, que a diferença percentual verificada na vacinação nos Açores, de 24,4%, para a Madeira, de 28%, “não é de vacinas disponibilizadas, mas de vacinas administradas, sendo essa uma responsabilidade das entidades regionais”. Referindo ainda, que “apesar de os Açores terem uma população ligeiramente menor que a da Madeira, se encontram a receber o mesmo número de vacinas”; dias depois, refere Gouveia e Melo que “a vacinação nos Açores foi alvo de “algumas distorções, devido à distribuição etária da população”, uma situação agora corrigida afirmou. A República remendou a mão e, passados mais de 6 meses, vem assumir que só agora reparou em distorções do número de vacinas face à distribuição etária? e o Governo dos Açores não reparou nesta distorção? difícil de acreditar. O que verdadeiramente aconteceu? Já agora na Madeira também ocorreu distorção? Se sim, para quando “operação Periferia 2” ou será só no Porto Santo?
Se o critério conforme referido pelo almirante é o da faixa etária, então porque vacinar as ilhas sem hospital? porque não houve uma distribuição equitativa da “operação Periferia” em todo o arquipélago? Facilmente se concluí que a decisão não coincide com a justificação da “operação Periferia”.
Possivelmente, a decisão da República esteve relacionada com a decisão do Governo dos Açores em pedir apoio nos EUA em plena presidência portuguesa do Conselho da União Europeia - o Governo dos Açores esteve bem e o Governo da República mal ao inicialmente negar intervir nesse pedido de apoio, mas bem ao dar uma lição à UE de como responder a uma RUP com a “operação Periferia”. Uma decisão em reação a outra e que creio que em nada se relaciona quer com as faixas etárias ou com as ilhas sem hospital, mas meramente de posicionamento político e de afirmação de poder.
Por outro lado, São Miguel está em convulsão social, económica e financeira - há empresas a encerrar, pessoas sem emprego, famílias inteiras à espera de um cabaz e apoios aos empresários que tardam. É dramático. Importa um plano de vacinação de ilha, um reforço efetivo, que permita um regresso à normalidade - algo que Vasco Cordeiro alvitrou em sede de debate parlamentar em abril passado.
São Miguel precisa de uma estratégia para o reforço de vacinação à COVID-19 urgentemente, que parece ver uma luz ao fundo do túnel isto a avaliar pelas declarações há dias do Presidente do Governo. Se tal não se confirmar, há uma realidade evidente em São Miguel que o Governo dos Açores teima em não ver.