Opinião

Riscos de um candidato imposto e da ala PPD

Depois de muita agitação, segredos mal guardados, convites e “desconvites”, aceitações e recusas… Aí está o candidato do PSD à maior autarquia dos Açores. Pedro do Nascimento Cabral (PNC) é o escolhido para tentar suceder a Maria José Duarte, Humberto Melo e José Manuel Bolieiro. Sim, foram mesmo três os presidentes da Câmara Municipal de Ponta Delgada nos últimos 4 anos. Começou com Bolieiro, passou por Humberto Melo e termina com Maria José Duarte, que quase sem contar, viu-se na incumbência de levar o barco até ao porto. E fê-lo, diga-se em nome da justiça, com elevação e surpreendente eficácia política. Esta recuperação histórica, conjugada com a opção de autoafastamento (?) da atual Presidente, é um sinal evidente da erosão do tempo em política. Desde 1993 que o PSD lidera o executivo pontadelgadense. São quase 3 décadas (28 anos!!) de poder absoluto. É muito tempo. É tempo a mais! E isso, como vem nos livros, acaba por causar um tremendo desgaste onde o poder se perde: internamente. A opção por PNC configura um tremendo risco político. Aliás, risco duplo. Para o próprio e para o partido. Comecemos pelo risco próprio. PNC representa a ala PPD do PSD. Isto ficou bem evidente nos 6 meses que leva de Assembleia Regional. Um discurso belicista, procurando um permanente acertar de contas com o passado, proferido com arrogância e sempre com uma postura de superioridade moral. PNC foi candidato, nas eleições diretas realizadas em setembro de 2018, a Presidente do PSD/Açores. Alexandre Gaudêncio ganhou com uns confortáveis 61%. Um ano mais tarde, como efeito político da “Operação Nortada”, na qual Alexandre Gaudêncio foi constituído arguido, PNC equacionou “ir de novo a jogo”. Acabou em Vice-Presidente de Bolieiro e n.º 2 da lista de Deputados em São Miguel. Foi eleito líder parlamentar e é, desde sempre, um dos defensores da “manta de retalhos”, cabendo-lhe inclusivamente o papel de defender entusiasticamente propostas apresentadas, de forma atabalhoada, pelo partido Chega. É, pois, um candidato imposto por 4 dos 5 partidos (a Iniciativa Liberal terá candidato próprio) que sustentam politicamente a coligação e que se via ainda recentemente noutro campeonato que aparecerá a defender a perpetuação do PSD no poder em Ponta Delgada... Vamos agora ao risco para o partido. O PSD, de Ponta Delgada e de São Miguel, tinha outras preferências. A escolha natural, a atual autarca, cedo decidiu não continuar. E aqui começaram os problemas. A opção se tivesse sido outra, teria evitado todas as trapalhadas que se seguiram. Trapalhadas essas que ganharam relevo pelo facto de terem vindo quase todas para a praça pública. A saída de cena da Presidente Maria José Duarte, preferida do ex Presidente Humberto Melo e não só, deu ideias a Pedro Furtado e fez com que Cláudio Almeida, líder da concelhia, viesse a público tecer loas à ex vereadora Fátima Rego e referir, não por acaso, a importância de o candidato do partido ter “experiência autárquica”. Simultaneamente, já todos sabíamos que Bolieiro tinha convidado o Dr. Elias Pereira. Isso mesmo foi confirmado pelo próprio aquando do anúncio da recusa ao convite recebido. Perante o desenrolar do filme, havia que decidir. Já chegava de recusas e indefinições! O PS já tinha arrumado a sua casa. E assim surgiu a decisão superior. Contra a vontade do líder concelhio e demais maioria da estrutura. A erosão continuará… inevitavelmente!