Opinião

As autárquicas já mexem!

Mesmo sem data, vão surgindo, a cada dia, notícias daqui e dali. Primeiro os candidatos. Os que se recandidatam, os que avançam pela primeira vez. Daqui a dias os projetos.
Mesmo nesta fase os desafios são enormes para todos os partidos. As escolhas dos cabeça de lista, a composição das equipas. E são enormes os desafios por várias ordens de razão. Primeiro, porque envolver cidadãos na política é uma tarefa cada vez mais difícil. Pela exposição, diria mesmo a devassa, pelo escrutínio, pela exigência, pela cada vez maior complexidade das tarefas e responsabilidades, não raras vezes acompanhadas pela exiguidade dos recursos. Particularmente nas autarquias, seja município ou freguesia, é evidente o desfasamento entre as expectativas do munícipe, as responsabilidades e possibilidades de intervenção direta destes órgãos e os recursos disponíveis para levar a efeitos um alargado leque de atribuições e competências. É muitas vezes (eu diria quase sempre) escolher entre cobrir os pés ou a cabeça.
Depois, porque é preciso reunir homens e mulheres em torno dum projeto político consistente. E a verdade é que estamos ainda na fase de cumprir a lei da paridade e temo que assim permaneçamos durante muitos e largos anos. Porque se cativar homens para estas missões já é crítico, mulheres é muito mais. Se calhar o problema está nos partidos, maioritariamente formados e formatados por e para homens. É possível. Mas não será exclusivamente essa a razão para o afastamento das mulheres. É preciso perceber e envolver. Quando o projeto democrático não cativa à participação cívica equilibrada de homens e mulheres, é sinal de que precisamos refletir de forma crítica e agir de forma consistente.
É também necessário assegurar a renovação das equipas permitindo a entrada de sangue novo.Novo em idade, novo em experiências. E que não seja só porque a lei obriga, mas porque acreditamos que este envolvimento de gente nova cativa a participação de muitos outros que se encontram distantes e afastado das urnas. Dir-me-ão alguns que isto é contraditório com o que antes escrevi a propósito da exigência das funções. Quem pensa assim está apenas a procurar uma justificação para manter tudo como está, abrindo espaço para uma de duas (ou as duas): o adensar do afastamento dos cidadãos da política e/ou o florescimento de discursos anti-sistema, racistas e xenófobos.
É lugar-comum dizer que os autarcas de freguesia são a base de todo o sistema democrático. Se alguém tem dúvidas basta avaliar a participação eleitoral nas eleições autárquicas e nos restantes atos eleitorais. É notória a diferença. A proximidade dos eleitos e dos eleitores é ainda muito maior a este nível e não pode ser negligenciada. E é, por isso, para mim evidente que, neste domínio, é fundamental avançar com o trabalho de revisão de atribuições e competências, assim como a correspondente distribuição de recursos financeiros. Lá está, dirão alguns que esta leitura é promotora de uma gestão "rotundística".  Eu acredito que não. É antes promotora de uma gestão próxima e eficiente, que é contrária a uma gestão de mão estendida aos humores de uns e de outros.
Temos de ser gratos. Sim, saber agradecer. Agradecer a quem deu do seu tempo, do seu saber. A quem muitas vezes não estava apaixonado, mas se apaixonou. Soube estar, e soube afastar-se. São e foram tantos. Vencidos e vencedores, cuja contrapartida deste trabalho exigente não é mais do que o prazer de servir a sua comunidade.