Opinião

Ponta Delgada: mobilidade suave

Principal centro urbano de São Miguel, e porque não dizer capital dos Açores, porque a ideia de Autonomia e a sua representação institucional, de modo algum esbatem a sua grandeza populacional, social e económica, simbolizadas por exemplo no facto de ter um porto que movimenta mais de 65% da carga marítima das ilhas ou um aeroporto como principal porta de entrada na Região, determinantes que levam a que todos os dias circulem milhares de automóveis nas estreitas ruas da cidade gerando múltiplos constrangimentos onde a conflitualidade com o peão se torna inevitável, principalmente no seu centro histórico, situação que será agravada se voltarmos a ter - como se espera -  os fluxos de turistas que conhecemos nos tempos pré-pandémicos.
Sem querermos acabar com a circulação automóvel na cidade, particularmente pelas razões respigadas em artigo anterior (conforto para utente, distribuição de mercadorias, comodidade para residentes mais idosos e segurança para a cidade durante a noite) a verdade é que temos que projetar novas soluções de mobilidade na cidade antes que seja tarde de mais ou que nos venham a ser impostas por outros.
Neste sentido, um dos conceitos que rapidamente temos de introduzir no nosso léxico, quando falamos destas questões de nos deslocarmos de um lado para o outro dentro da cidade e desta para o seu exterior e no seu acesso, é o da mobilidade suave, que mais não é do que usar transportes alternativos ao automóvel, de modo a evitar as filas, os engarrafamentos, as demoras e a exasperação de quem os usa diariamente para chegar a tempo e horas ao emprego ou à escola; martírio diário, que quase esquecemos considerando as condições atípicas que a pandemia nos trouxe, mas com o qual no esperado regresso à normalidade rapidamente voltaremos a ser confrontados, e aí o conforto do carro em determinado limite deixará de compensar, a fatura do parqueamento pesará nos bolsos, para além da necessidade imperiosa de termos uma cidadania responsável assente numa consciência ecológica.
E é neste sentido que temos que começar a planear a cidade de Ponta Delgada como uma cidade do futuro, onde uma rede de transportes públicos de motriz elétrica não sejam meras exceções, que a intermodalidade de transportes surja como uma inevitabilidade, e onde andar de bicicleta em vias reservadas para o efeito ou mesmo a pé em pisos de pavimento suave terá de ser uma realidade, sabendo-se que as nossas intempéries por vezes podem não ser muito amigas destas últimas locomoções. 
Se um dos projetos que se apresenta como mais urgente realizar na cidade é a ligação da Avenida João III à Avenida Mota Amaral, a ele deverá ficar  associado a criação de uma ciclovia que numa primeira fase irá ligar a rotunda de São Gonçalo até às avenidas litorais, (avenida do Mar para São Roque e Pópulo e avenida Infante D. Henrique para centro histórico), enquanto numa segunda fase teremos uma ciclovia que ligará aquela rotunda através das ruas de São Gonçalo, José do Canto, São Joaquim até à Antero do Quental, ou até uma futura rotunda (em estudo) que será necessário construir para resolver os problemas de trânsito que se verificam no cruzamento junto ao edifício da Segurança Social.
Esta segunda ciclovia para além de servir residentes e turistas, estará vocacionada principalmente para a população mais jovem que pendularmente se desloca para o campo militar de São Gonçalo, Universidade dos Açores, Colégio do Castanheiro, Escola Secundária Domingos Rebelo e Escola Básica Canto da Maia. Uma terceira fase será naturalmente a sua ligação à Avenida Marginal onde a passagem pelo Parque São Francisco Xavier e Escola Antero de Quental terá de ser assegurada. Claro que na sua passagem na Avenida D. João III deverá ser equacionado um pequeno ramal até à Escola Secundária das Laranjeiras.
Se esta ciclovia tiver um bom piso, se começar a “moda” de circular de bicicleta entre os residentes, e se os turistas tiverem à sua disposição aplicativos móveis, serviços de aluguer e apoio ao longo dos percursos, acompanhado de sinalização dos principais pontos turísticos da cidade, podemos, num futuro próximo, fazer uma boa e segura caminhada, para termos uma nova vida na cidade de Ponta Delgada.