Opinião

Caminhos perigosos

Nos tempos mais recentes, temos assistido a declarações e ações de figuras públicas do campo político, sendo que todas com enormes responsabilidades decorrentes dos cargos que temporariamente ocupam, que muito têm contribuído para a subida em flecha dos fenómenos populistas que andam por aí. Estamos a assistir a incursões por caminhos perigosos. Vamos lá a 3 exemplos de flagrantes desvios ao “regular funcionamento das instituições democráticas”:


1. Desvio presidencial

 

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não consegue estar muito tempo calado. E, como nos diz a sabedoria popular, “quem muito fala, pouco acerta”. Marcelo achou por bem dizer a sua opinião sobre a subida no número diário de casos de Covid-19. Ficámos a saber que o Presidente da República descartava a hipótese de Portugal ter de andar para trás no desconfinamento em curso. Confrontado com a propagação em Portugal da variante Delta, Marcelo referiu “tem havido variantes várias, vão aparecendo e desaparecendo”. Passaram duas semanas destas declarações, o número de casos diários está já no patamar registado em fevereiro (cerca de 2500); a variante Delta está aí em força; e o Governo – órgão com competência na matéria – decidiu voltar atrás em diversos concelhos. Aqui pelo meio, o Chega realizou uma manifestação contra as restrições impostas. O Presidente terá comparecido?   


2. Desvio sevilhano
 

O Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, decidiu que estava na altura de falarem dele. Afinal, é a segunda figura do Estado. Com grande parte do país de olhos postos no Euro, Ferro Rodrigues, entusiasmado com as defesas de Rui Patrício e os golos do Ronaldo frente à poderosa seleção francesa,  veio a público dizer o seguinte: "Espero que os portugueses se desloquem de forma massiva para o sul de Espanha e que possam apoiar uma grande vitória de Portugal nos oitavos de final deste Campeonato da Europa". Como é óbvio, em plena pandemia cá e lá (Andaluzia está como zona vermelha), e face ao cenário social e económico provocado por esta, rapidamente, tão desastrosas declarações se tornaram virais. Um dia ou dois depois, Sua Excelência reiterou o “convite”. Desta feita no encerramento dos trabalhos parlamentares. Criticado por todo o lado, o Senhor Presidente não atravessou a fronteira. E Portugal foi eliminado do Euro… Para azar nosso, e felicidade dos especialistas em “memes”, até tivemos direito a uma bola no ferro!


3. Desvio ministerial
 

O Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, tem sido fortemente criticado nos últimos dias por causa do trágico acidente em que esteve envolvido a viatura em que seguia. A transformação deste acidente, que todos seguramente muito lamentamos, num caso político tem por finalidade fazer cair o Ministro. Ora, ainda que a comunicação oficial por parte do ministério tenha sido desastrosa e, pior do que isto, tenha deixado no ar muitas perguntas por responder, não é por isto que o Sr. Ministro deve dar lugar ao próximo. Recordo-me, salvo erro no final do ano passado, que num daqueles habituais inquéritos sobre a atuação do Governo que quase 70% dos inquiridos defendia a saída de Eduardo Cabrita. O ministro Cabrita tem pautado o seu percurso governamental pela soma de polémicas. Assim de repente, recordo as famigeradas “golas antifumo que eram inflamáveis”; o SIRESP; a gestão do “caso SEF”; a requisição do Zmar; etc.. etc.. São casos a mais. O Senhor Ministro implora por uma remodelação!