Opinião

O “José Esteves” da Agricultura dos Açores

Lembram-se da personagem, criada por Herman José, chamada “José Esteves”? Entre outros êxitos relacionados com o comentário desportivo, “José Esteves” ficou conhecido por interpretar uma canção de apoio à seleção portuguesa. A música chamava-se “Bamos lá cambada” e na respetiva letra era muitas vezes repetida um “Bamos lá cambada, todos à molhada”. Ora, por esta expressão e o título desta crónica, já perceberam que dedicarei estas linhas a Sua Excelência o Secretário Regional da Agricultura e do Desenvolvimento Rural. O Senhor Secretário viu, recentemente, o seu nome na liderança das redes sociais. Os motivos, como é costume nestas andanças, não foram os melhores. Longe disso. Mas, com a habilidade do trinco que veste a camisola 10, conseguiu tornar o erro cometido em algo pior. Como diz o povo “foi pior a emenda do que o soneto.” Na verdade, assistimos a uma reação totalmente desastrada. O bom senso aconselhava a que fosse dado um passo atrás. Ventura, acossado por todos os lados, deu dois passos à frente. E estampou-se ainda mais! Mas, sabendo do peso que tem junto de Bolieiro, fê-lo conscientemente. E sempre sem máscara! Vamos por partes. Na semana passada, tornou-se viral um vídeo do Senhor Secretário Regional da Agricultura, acompanhado do ainda (por mais 3 meses?!) Diretor Regional da Cultura, num evento tauromáquico, na ilha Terceira, com cerca de meia centena de pessoas, sem qualquer respeito pelas regras básicas que o tempo pandémico que vivemos a todos obriga. Ou melhor, deveria obrigar! Máscaras? Distanciamento social? Desinfetantes? Nada! Zero! Tudo ao molho e fé em Deus! O Senhor Secretário, membro do órgão (conselho do Governo) onde regularmente são aprovadas ou renovadas diversas medidas de combate à pandemia, decidiu violar grosseiramente as regras por si aprovadas e fazer o contrário do preconizado por governantes e outros responsáveis políticos em vídeos de sensibilização para cumprimento das regras sanitárias em curso. Ora, ao mar de críticas das redes socias, rapidamente se passou para um plano mais institucional. O Bloco de Esquerda, e bem, colocou o assunto na agenda política. E foi por este motivo que tivemos direito a assistir ao transformismo do Senhor Secretário da Agricultura. A resposta, tardia, surgiu em versão “José Esteves”. António Ventura decidiu justificar o total incumprimento das regras com a “especificidade da atividade”; com “o convívio diário entre aquelas dezenas de pessoas”; com a “impossibilidade de utilizar a máscara”; que “quando se come e quando se bebe, tira-se a máscara” e, como cereja no topo dos argumentos disparatados, que  "Se estivesse [o Bloco de Esquerda] muito preocupado com essa eventualidade de cumprimento das regras, tinha logo no dia a seguir levantado a questão, mas não, foi passado duas semanas. Isso significa que o objeto não é a máscara, mas efetivamente a tauromaquia e a atividade tauromáquica". Esta tentativa de “caldeação” de assuntos, com o intuito de desviar atenções do grosseiro incumprimento das regras básicas, é descabida e inaceitável. O José Esteves e o “todos à molhada” foi ressuscitado pelo XIII Governo dos Açores. Não generalize, Senhor Secretário, é a “cambada”!