Contrariando uma lei universal que Lavoisier aplicou às “coisas” da natureza, parece que nas “coisas” do nosso quotidiano, muito se cria, muito se perde e muito se transforma.
Crise pandémica, crise económica, novos paradigmas sociais e da política; e a ciência a tentar que pouco se perca em vidas humanas, mesmo que de alguns comportamentos pouco se transforme.
Mesmo antes de passar mais de quarenta plenários sentado a ouvir e levantado a intervir, já seguia com muito interesse as declarações políticas aí proferidas; e os comentários que por cá se fazem sobre a tal naturezas das coisas que nos acontecem ou querem que nos aconteça.
Houve momentos de bom nível e oportunidade e outros de demagogia pura e dura, aturada por vezes com saídas forçadas para tomar ar. Assim permite o regimento.
Estamos em pandemia do SARs-Cov2 e de outras comorbidades de que não se livra o nosso quotidiano. Hoje confinamos, amanhã desconfinamos, hoje estamos em risco elevado, amanhã podemos relaxar, ontem foi o concelho vizinho, hoje é o nosso, como se de Ponta Delgada à Lagoa ou à Ribeira Grande, tivéssemos uma imaginária fronteira sanitária ou como se faz agora na metrópole, tivéssemos licença para entrar ou sair das urbes.
A vacina, apelidada de luzinha ao fundo do túnel, agora visível para mais alguns; ainda não passa disso; uma luzinha num túnel cuja saída afunilada é mais um buraco negro do que uma saída para o Éden.
Não se trata de discordar da vacina, antes pelo contrário, embora seja lícito discordar-se de partes do plano de vacinação; veja-se a prevalência crescente de infetados nos jovens; mas sim pensar-se que as luzinhas tenham força suficiente para iluminarem todas as decisões e transformações que se avizinham.
Precisamos de holofotes, a iluminar este túnel que tarda em mostrar a sua saída.
Não é só a confusão que a evolução pandémica induziu que nos assusta, é o desnorte do cientificamente incorreto se ter transformado numa falácia feita arma contra não se sabe bem o quê, embora o facto do vírus ser invisível a olho nu, justificar alguma guerra quixotiana.
Há quem afirme que a história tende a repetir-se. Não vou por aí, mas lembrei-me de Bentham, fundador do utilitarismo, quando postulou ser uma falácia quando se afirma que algo pode ser bom na teoria e mau na prática, porque na verdade se algo está a correr mal na prática é porque algo está errado na teoria.
Não se trata de perder a esperança, esse não sei quê que nos leva a acreditar que algo de bom virá se nada de mau entretanto acontecer, mas sim de ganhar a confiança, esta evidência que se constrói com comunicação, esclarecimento, ação concertada e firme; mas também com a modéstia de aceitar e corrigir erros e omissões, quando algo de errado na teoria ou na prática os induziram.
Falácias e discursos inúteis; não!