Opinião

Os ventríloquos do Sr. Embaixador

O Senhor Representante da República, Embaixador Pedro Catarino, decidiu nada dizer ao Povo Açoriano. Isto, claro, a respeito da mudança dos pressupostos que levaram à indigitação de Bolieiro como Presidente do XIII Governo da Região Autónoma dos Açores. E que pressupostos eram estes? Se bem se recordam, Bolieiro chegou a Presidente com uma pasta debaixo do braço onde estavam guardados os originais dos acordos escritos que representavam 29 mandatos. Número este que garantia a necessária estabilidade, pois era sinónimo de maioria absoluta na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Para chegar a este “número” foi preciso juntar PSD, CDS-PP, PPM, Chega e Iniciativa Liberal. Somando, hoje, temos apenas 28 Deputados. O que significa dizer que não existe, formalmente, maioria. A manta de retalhos que suporta o Governo, para dar 29, tem de juntar um acrescento às 5 matrizes de diferentes tecidos que foram cosidas em novembro de 2020. Acrescento este que terá de implicar um remendo numa parte da manta, uma vez que o deputado independente não quer ser cosido ao tecido remanescente do Chega. Perante este corte e costura, o Senhor Representante, talvez inspirado no Dr. Tato, “foi de férias”. Confesso que não esperaria uma intervenção para os anais da política açoriana, mas sempre seria uma prova de vida. Assim, o seu silêncio é uma prova inequívoca – mais uma – da total irrelevância do cargo. Ainda para mais quando aceita que outros “falem” por ele. Ficámos a saber, em primeiro lugar, pelo agora Deputado Independente, Carlos Furtado, ex líder do Chega e subscritor nessa qualidade do acordo de incidência parlamentar com o Governo do PSD e apêndices, de que o Senhor Representante República, “com toda a simpatia” respondeu à comunicação recebida e “mostrou conforto” por ter sido informado e nos termos em que o foi.  Uns dias depois, Bolieiro, veio a terreiro dizer que já tinha falado com Pedro Catarino e que não havia razoes para este intervir. Bolieiro, naquele seu registo muito próprio, veio dizer-nos que está tudo bem e que o acordo assinado pelo Deputado Carlos Furtado está perfeitamente válido e, por isso, rejeita que a alteração entretanto ocorrida obrigue à redação de um novo acordo, uma vez que os “compromissos foram assinados com pessoas concretas e não com abstrações”. O Deputado já não é líder do Chega. O Deputado já não representa 2 mandatos. O Deputado, ora independente, está em vias de ser expulso do Chega. Mas o papel que assinou, em nome do Chega, está válido. É isto, não é? Por fim, surgiu Marques Mendes. O conselheiro de Estado, que todos sabemos ser muito próximo de Marcelo Rebelo de Sousa, apareceu no pequeno ecrã a dizer que a “solução [nos Açores] não é evidentemente replicável para o continente”, mas é “legítima”, “decidida por órgãos próprios” e até teve um tempinho para elogiar alguns “notáveis exemplos da ação política deste Governo dos Açores”. Temos, portanto, em curso uma espécie de disputa pelo melhor ventríloquo do Senhor Embaixador. Talvez seja por isso que Sua Excelência o Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores veio publicamente defender a extinção do cargo aqui em causa!