"O que conta são os factos e não o que se estima", disse José Manuel Bolieiro.
Com esta afirmação, no início desta semana, o Presidente do Governo Regional demonstrou toda a sua incapacidade política para governar esta Região.
Senão vejamos.
Comecemos pela "estima" deste Governo relativamente a 2022 com a proposta que apresentou de Plano e Orçamento.
Desde logo pelo cálculo de uma receita fictícia, ou seja, este Governo propõe obter dinheiro onde sabe, à partida, que não poderá obter.
Prevê recorrer ao endividamento na ordem dos 170 milhões de euros, quando, de acordo com o Orçamento do Estado, não será possível porque a Região não cumpre os requisitos necessários, nomeadamente, de que esse endividamento não pode ultrapassar 50% do Produto Interno Bruto regional.
Depois propõe ter 75 milhões de euros de saldo de gerência, quando antes do fim do ano não é possível dizer que o saldo que irá transitar para 2022 é de "x", "y" ou "z".
E, como se não bastasse, a propósito do furacão Lorenzo, este Governo estima 35 milhões de euros de transferências do Orçamento do Estado. Contudo, como o pode fazer se foi este Governo que, a seu pedido, o financiamento para o furacão Lorenzo teria um determinado limite e esse financiamento viria de Fundos Comunitários?
Mas José Manuel Bolieiro, nada querendo saber disto, nada querendo saber do facto de estar a hipotecar o futuro da Região, mais parecendo importar-se com momentos públicos para espraiar o seu "latim", diz que o que conta são os factos.
Então passemos aos factos.
Nos próximos seis anos, entre 2021 e 2027, teremos cerca de mais 3,2 mil milhões de euros de Fundos Comunitários que, adicionados às verbas do Plano de Recuperação e Resiliência, ao próximo Quadro Financeiro de Apoio, mas também às verbas relativas à Agricultura, Pescas, às verbas de reforço do anterior REACT-EU, constituem cerca de duas vezes mais dos recursos financeiros que estiveram ao nosso alcance entre 2014 e 2020.
Só para este ano, este Governo deveria executar 170 milhões de euros.
170 milhões de euros que viriam para a Região e que, não vindo... perdem-se.
Onde estão 4,3 milhões de euros para o Hospital Digital?
Onde estão os 5,8 milhões de euros para o aumento das condições habitacionais da Região?
Onde estão os 4 milhões de euros para o combate à pobreza?
Onde estão os 3,3 milhões de euros para a qualificação de adultos?
Onde estão os 4 milhões de euros para a educação digital?
Ou seja, onde foram gastos os 170 milhões de Fundos Comunitários?
Mas vejamos mais factos.
Olhemos para o que este Governo prometeu e não cumpriu.
Olhemos, por isso, para o que este Governo planeou e, a três meses do fim do ano, ainda não executou em 2021.
No que se refere ao Serviço Regional de Saúde, nomeadamente, ao seu apetrechamento e modernização, foram aprovados cerca de 2 milhões de euros.
Contudo, até setembro este Governo gastou quanto?
2.900 euros.
É isso.
2.900 euros.
Este Governo paga mais num mês de ordenado ao fotógrafo do Presidente do Governo do que aquilo que gastou até setembro deste ano para o apetrechamento e modernização do Serviço Regional de Saúde.
Mas mais.
Na capacitação do Sistema de Saúde, foram aprovados 18,5 milhões de euros. Até setembro faltavam ainda gastar 14 milhões.
Para as Tecnologias da Saúde foram aprovados 3 milhões de euros. A três meses do fim do ano foram gastos 830 mil euros.
E continuando na Saúde passemos a outro facto.
Entre a anteproposta e a proposta de Orçamento apresentada na Assembleia Regional este Governo corta com 75 milhões de euros.
Com isso falha, desde já, com o compromisso assumido de em dois anos pagar 150 milhões de euros de dívidas a fornecedores.
Este verão, anunciaram com pompa e circunstância o pagamento de 25 milhões de euros de 75 milhões de euros.
Do restante em falta, dizem que até ao final do ano se pagará "mais qualquer coisinha"...
Questionados sobre quanto será essa "coisinha" não sabem responder.
Portanto, para este ano prometem pagar mais "qualquer coisinha", não sabendo quanto, sendo que para 2022, cortam, desde já, 75 milhões.
Assim, em poucos meses, tão depressa se promete e criam expectativas como tão depressa não se cumpre e defrauda.
E perante os factos e a estima de não se ver cumprido o assumido e prometido, este Governo nada responde.
Na realidade, entre factos e "estimas" nada parece contar para este Governo.
Seguem como se nada fosse.
A população já se manifestou contra as medidas de combate à COVID-19.
Empresários já se manifestaram contra o polémico processo das Agendas Mobilizadoras.
Mais recentemente, mais de duas centenas de produtores de leite protestaram em marcha lenta em Angra do Heroísmo.
Num ano de "governação" é esta a obra?
Em poucos meses, apesar de em Pandemia, a população sai à rua numa necessidade de se manifestar contra este Governo.
É este o "sucesso" de que este Governo fala e se orgulha?
Se a José Manuel Bolieiro apenas interessam os factos, os factos estão à vista.
Contudo, no fundo, este Governo parece não saber, não querer saber e ter raiva de quem sabe.
Não é aceitável. Sobretudo de quem assumiu que "é, não apenas desejável, como possível governar melhor os Açores"...