Opinião

Negacionismo...portuário!

O Porto da Horta é um bom exemplo do entusiasmo com que o “ilhéus” abordam as acessibilidades, nomeadamente marítimas. Os projetos e as ideias sucedem-se e as pessoas envolvem-se porque sabem que as decisões, a considerar, influenciarão (in)diretamente as suas vidas e as próximas gerações.

Alguns, onde me incluo, acham que o Porto da Horta precisa de ordenamento e planeamento de longo prazo, otimizando as funcionalidades existentes com realce para a náutica de cruzeiro, com um potencial de desenvolvimento extraordinário. Que se deverão encontrar condições de atracagem para as centenas de embarcações que procuram abrigo, na baía da Horta, para restabelecer energias sobretudo no contexto da “grande travessia” do atlântico norte. Que se impõe explorar a “invernagem” nos Açores, enquanto “oportunidade de negócio”, onde os visitantes, logo potenciais clientes, já arribam, numa oportunidade “singular” de gerar emprego e economia.

Depois de algumas propostas de intervenção, depois de elaborado projeto, depois de vários estudos e simulações sobre agitação marítima (dois deles em modelo reduzido elaborados pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), depois de várias comissões municipais e dos assuntos do mar, depois de várias abordagens em sede de assembleia municipal, depois da pronúncia de diversos utilizadores e especialistas, a indefinição e a incapacidade de encontrar consensos prevalece. O Porto da Horta aguarda que algo se concretize.

Infelizmente!

Os resistentes, a essa intervenção, acham que “as ideias” em presença não devem ser implementadas. Suportam a sua posição em fotos e vídeos adulterados ou descontextualizados. Alegam uma agitação marítima, no interior de um Porto, situado no centro no Atlântico. Depois, vão mais longe, sem qualquer suporte científico, apontam como causa, dessa agitação, a construção do molhe norte (terminal marítimo de passageiros) concluído em 2012.

Neste contexto, há algo que não poderíamos deixar de registar. O País e os cidadãos desdobram-se em esforços, a trabalhar e a descontar, tendo como um dos principais destinos dos seus impostos a Educação e o Sistema Educativo, visando proporcionar o acesso à escola e à universidade, para mais e melhor conhecimento, que suporte melhores decisões. Estes impostos suportam ainda uma orgânica governamental, onde se incluem laboratórios especializados, como o LNEC, que disponibiliza estudos e pareceres.

A “Portos dos Açores”, empresa pública regional, resiste às soluções existentes, não apresentando qualquer alternativa. Na qualidade de responsável pela gestão do porto, bem como pela construção do molhe Norte, opta por continuar a estudar o assunto, na busca de uma agitação marítima, que os estudos científicos “teimam” em não encontrar. Curiosamente os resultados sucedem-se concluindo, todos no mesmo sentido, pela inexistência de qualquer aumento de agitação.

Revela-se incapaz de encontrar os consensos necessários para qualquer intervenção, no pano de água, corroborada por um novo governo dos Açores, que "confortavelmente" não apresenta qualquer alternativa, ou qualquer visão complementar.

Este “negacionismo portuário”, assenta na possibilidade de que laboratórios, como o LNEC, possam ser “ludibriados”. Insistem teimosamente que o Porto da Horta está sob influência de uma agitação marítima anormal, provocada pela construção do molhe norte. Um novo molhe, inaugurado há cerca de 10 anos, repito 10 anos que, imaginem, transformou profundamente o transporte marítimo de passageiros nos Açores.

Para quem pensava que uma história com estes contornos não seria possível de acontecer no séc. XXI. Está a acontecer! Nos Açores! No Porto da Horta!