Sigo há muitos anos os congressos partidários. Faço-o por gosto. Os congressos, independentemente do estado da arte em que se encontra o Partido, trazem sempre momentos de relevante interesse para quem acompanha o fenómeno político-partidário. Os discursos do(a) líder são sempre os pontos altos dos conclaves partidários. Mas há outros momentos. Há intervenções empolgantes; há intervenções que nos deixam a pensar; há silêncios táticos; há ausências demasiado presentes; há listas e mais listas a determinados órgãos; há falsas unanimidades; há abraços para telespetador ver; há momentos caricatos; há horas de comentários e entrevistas e muito, muito, mais. No 39.º Congresso nacional do PSD, para além da curiosidade e interesse que me suscitava as intervenções de Rui Rio, aguardei com expectativa o discurso de José Manuel Bolieiro. Não por aquilo que iria dizer, mas pela forma como o diria. E, mais uma vez, Bolieiro não defraudou as minhas expectativas. “É precisa uma visão reformista contra o radicalismo do centralismo, que sufoca a integralidade do país e é responsável pelas assimetrias negativas do nosso desenvolvimento”, referiu Bolieiro. Grande tirada! Só é pena, mais do que não ser percetível para a esmagadora maioria das pessoas, não ter sido seguida de medidas concretas a serem implementadas com urgência. Mas isso já não é da esfera do expert na forma. O conteúdo fica, mais uma vez, para outras núpcias! Posteriormente, Bolieiro defendeu também “o reforço da autonomia política das regiões autónomas dos Açores e Madeira, lembrando que estas constituem um sucesso e que são, foram e não podem deixar de ser um desígnio da democracia portuguesa”. Isto significa um reconhecimento aos 24 anos de governação da responsabilidade do PS nos Açores? É provável, mas mais uma vez ficámos sem saber, em concreto, em que consiste o “sucesso” referido pelo Presidente do PSD/Açores. Como também pode, apenas, ter sido um lapso de escrita. Já que, em seguida, foi dito que “urge mais autonomia política, para melhor descentralizar o país e para melhor desenvolver Portugal.” E prosseguiu dizendo que “é com autonomia política e a legitimidade democrática direta, que melhor servimos as nossas populações”. Em que se traduz essa aludida “autonomia política”? Ficámos, mais uma vez, sem saber. Terá sido um eufemismo para defender, nas entrelinhas, a extinção do cargo de Representante da República? Terá sido um recado a Rui Rio? Ou a André Ventura? Ou a ambos? Responda quem souber… A verdade é que de “mais autonomia política”, Bolieiro passou para uma alusão muito própria à preponderância do posicionamento geográfico (bonito, não?) dos Açores e da Madeira, referindo que “As regiões autónomas dos Açores e da Madeira são uma mais-valia para um Portugal de projeção atlântica. Não são a ultraperiferia. O futuro transforma um Portugal atlântico num país não periférico, mas sim com uma projeção atlântica e de centralidade planetária.” E mais não disse na (formalmente brilhante ou não) alocução proferida em Santa Maria da Feira.
PS: Votos de Boas Festas para todos!