Desde o dia 2 de janeiro que está em curso uma espécie de sessão contínua de curtas metragens dedicada, alegadamente, ao cabal esclarecimento dos eleitores para possibilitar um voto consciente no próximo dia 30 de janeiro. Esta “sessão” decorre até ao próximo dia 15 de janeiro. Findos estes 14 dias, ter-se-ão realizado, nada mais nada menos, do que 36 debates! À exceção de um dia (13 de janeiro), as sessões diárias dos debates são duplas ou triplas. O frente a frente dura, aproximadamente, 25 minutos. São, portanto, cerca de uma dúzia de minutos a cada um dos candidatos. Já vi debates em que, face à pobreza franciscana dos discursos, foi tempo a mais. E também já vi outros em que o tempo foi demasiado curto. Nada mais normal face à catadupa de debates. Mas, para que não fique qualquer ideia contrária no ar, não sou contra a existência de debates. O esclarecimento é fundamental. A democracia faz-se dando oportunidade a todos de se exprimirem em igualdade de circunstâncias. E aqui, sim, começa a minha crítica. A opção editorial, chancelada pela Comissão Nacional de Eleições, foi por dar tempo de antena apenas aos partidos com assento na Assembleia da República. Acrescentando o Livre (que ficou sem representante pela passagem de Joacine Katar Moreira à condição de Deputada não inscrita). E os outros partidos? No último ato eleitoral para a Assembleia da República, ocorrido a 6 de outubro de 2019, constavam no boletim de voto em Lisboa (maior círculo eleitoral) 21 partidos. Nas eleições de 30 de janeiro constarão, novamente em Lisboa, 20 partidos. Neste sentido, foram excluídos do ecrã 11 partidos que irão a votos. Tendo em atenção os resultados verificados em 2019, estes partidos que ficaram fora dos debates representaram em conjunto, aproximadamente, 200 mil votos. 4% dos votantes. Parafraseando Rui Rio, não é nenhuma fartura. Mas se continuarem sem acesso à visibilidade que as tv´s dão, garantidamente, estarão impossibilitados de qualquer crescimento. Outra das críticas, por objetiva violação da igualdade de candidaturas, prende-se com o tempo do debate. Em 35 dos 36 debates teremos os tais 25 minutos para os candidatos debaterem. E no que falta? O debate PS-PSD (13 de janeiro), para além de ser o único nesse dia e de passar em simultâneo nos 3 canais generalistas, terá o dobro (no mínimo) da duração dos demais. É verdade que todos aceitaram este formato. Tal como é verdade que a decisão principal – o próximo Primeiro-Ministro – sairá de um dos candidatos presente no debate com tratamento diferenciado. Mas isso não significa que não se assinale aqui a gritante desigualdade entre candidatos. Desigualdade essa que, a outro nível, também é muito presente nos painéis de inúmeros comentadores que analisam e até dão notas aos candidatos mal acaba os debates. Há candidatos que ganham os debates… mesmo quando nem saem das cordas. E há também um candidato que perde sempre. A minha vontade é que perca, mas eu não sou comentador. E muito menos isento. Por fim, um desabafo de quem viu quase todos os debates. Gostava de ter visto outro registo. Menos passado e mais futuro. E isso não é culpa do formato…