A SATA, mesmo que não pareça, é uma empresa. Pública, é certo. Mas empresa! Ora, isto significa, de forma simples e direta, que está a operar num mercado com determinadas regras e com objetivos definidos. Nas tais regras está, ou deveria estar, uma gestão profissional, conhecedora do meio e, principalmente, que fosse totalmente imune a “discos pedidos”. Ora, nos últimos dias, assistimos, mais uma vez, à definição de rotas com base em “discos pedidos”. Desta vez, o autor do pedido foi o CDS-PP. E até tivemos direito a uma nota pública de congratulação. Parece brincadeira de Carnaval, mas infelizmente aconteceu. O grupo parlamentar do CDS-PP veio mesmo a público regozijar-se com o anúncio de novas rotas aéreas para a ilha Terceira operadas pela SATA Azores Airlines. O CDS-PP da Terceira, através do Deputado Pedro Pinto, veio dizer-nos que as novas rotas são resultado “de uma estreita colaboração entre a companhia aérea e a vice-presidência do Governo Regional, através da Aerogare Civil das Lajes, no sentido de diversificar as rotas e servir melhor as comunidades da nossa diáspora”. Para o dirigente do CDS-PP da Terceira, “as novas rotas aéreas abrem perspetivas de recuperação para o setor turístico, nomeadamente hotéis, restaurantes, aluguer de viaturas e atividades turísticas”, pelo que “são boas notícias para os Açorianos e para a companhia aérea que necessita de recuperar um pesado passivo financeiro”. O CDS-PP da Terceira acredita que o verão de 2022 será um “marco de viragem nas ligações aéreas para a ilha Terceira, conscientes da importância que a diversificação de rotas tem para a economia da ilha Terceira e dos Açores, nomeadamente para o setor do turismo”. Perceberam ao que isto chegou? O CDS-PP da Terceira veio dizer-nos que, pela influência e visão do grande líder do CDS-PP, vai iniciar-se a recuperação do passivo da companhia aérea. Assim mesmo. Sem tirar, nem pôr! Quer dizer, a administração da SATA, o desconhecido plano de recuperação e todo o demais planeamento foram, completamente, atirados borda fora! Costuma dizer-se que o que se fez no passado deve servir de aprendizagem… Por forma a se mudar totalmente os atos que levaram ao acumular de prejuízos; a retificar os erros e falhas ainda passiveis de correção e melhorar o que corre bem. Ora bem, qualquer leigo sabe que no passado houve opções relacionadas com aeronaves e rotas que não lembravam a ninguém. A SATA tem hoje, como no passado, particularidades muito especiais. A sua missão é “construir pontes atlânticas entre os Açores e o mundo”. Esta missão é altamente complexa face à dimensão da companhia. Por isso, todas as opções têm de assentar em pressupostos realistas e sempre exequíveis. Infelizmente, pela amostra recente conclui-se rapidamente que pouco ou nada se aprendeu com o passado recente. Nenhuma das rotas objeto de congratulação e bajulação do CDS-PP da Terceira vieram acompanhadas de um estudo credível de viabilidade económica. E mais rotas se seguirão… A administração da companhia deve ter ficado inebriada com alguma canção de embalar vinda da Vice-presidência. O acordar, mais uma vez, será violento…