Na passada quinta-feira, dia 24 de fevereiro, realizou-se nova sessão da Assembleia Municipal de Ponta Delgada. Na minha qualidade de deputado municipal tive oportunidade de abordar dois assuntos que têm estado na ordem do dia. Refiro-me à precipitada decisão de tornar já definitivo o que sempre havido sido assumido como temporário (alterações ao trânsito no centro histórico) e ao crónico problema da recolha de resíduos. Neste texto fico-me pelo assunto do trânsito. A importância do assunto e as trapalhadas e contradições que lhe estão inerentes merecem que volte a este tema. Na Assembleia Municipal fiz duas intervenções (máximo permitido pelo Regimento) sobre este tema, mas a verdade é que muito ficou por esclarecer e aquilo que foi dito merece ser analisado devidamente. Subi à tribuna com um propósito: dar oportunidade ao Senhor Presidente de Câmara de esclarecer a inversão na decisão de não reabrir o centro histórico pós quadra festiva. Para tal, e a título de enquadramento, recordei os editais com a informação das alterações temporárias ao trânsito; levei uma de várias notas publicadas na página da autarquia onde se enfatizava o caráter temporário das diversas medidas e recuperei excertos da ata da reunião da Assembleia Municipal datada de 29 de dezembro de 2021 onde, inequivocamente, nos havia sido dito que as alterações definidas eram “limitadas no tempo” e “não definitivas”. Ora, a verdade é que o temporário passou a definitivo. Vai daí, fiz questão de assumir que tinha sido enganado e, em consequência, entre constatações e críticas que fiz, solicitei ao Senhor Presidente esclarecimentos sobre os motivos de tão rápida mudança de posição. Qual a necessidade de tudo isto, perguntei eu. A resposta foi deveras impressionante. Ficámos a saber, logo no início da explanação do Senhor Presidente, que a “experiência” efetuada mostrou inequivocamente que “não havia nenhum problema de estacionamento em Ponta Delgada”. Segundo o Senhor Presidente, os parques que servem a zona histórica nunca ultrapassaram os 40% de lotação. Depois, ficamos também a saber que as alterações temporárias (ou seriam definitivas?) estavam assentes em “estudos” e “planeamento” existentes há largos anos. Estudos esses que permitiram ao Senhor Presidente, vá-se lá saber porquê, dizer que “isto não é uma ideia de um homem só”. E, quase a terminar, ficamos também a saber que foi por tudo isso que o Senhor Presidente decidiu “sacrificar a sua palavra, os seus interesses pessoais e político-partidários [...] e dar aquilo a que Ponta Delgada merece”. Ora, perante esta argumentação, tive de voltar a usar da palavra para tirar algumas conclusões, ainda que em jeito de perguntas retóricas. A verdade, indesmentível, é que no dia 29 de dezembro, data da última Assembleia Municipal, os ditos estudos já eram conhecidos e a taxa de ocupação dos parques também. Mas apenas 4 dias depois foi anunciado, sem possibilidade de imediata reação, que o temporário era definitivo. A mudança de posição não teve nada a ver com estudos. E muito menos com planeamento. O sacrifício da palavra é, no fundo, um eufemismo para uma estória muito mal contada!