Opinião

Produzir Localmente

Nos últimos dias foi recorrente a mensagem pública do Secretário Regional da Agricultura, para a necessidade da produção local - esta é uma importante mensagem pública para uns Açores capazes de produzir localmente para um robusto abastecimento interno e exportação para mercados de nicho. Nos últimos registos públicos, dados publicados no SREA- Serviço Regional Estatística dos Açores, o cenário atual da produção vegetal para consumo humano é de cerca de 7%.

No histórico e presente existe pouca informação estatística do que se produz nos Açores. Sabemos que consumimos cebola, mas não há registo de produção de cebola ou da sua importação.

As influências das opções da Política Agrícola Comum desde a adesão de Portugal à CEE tornaram-nos reféns do milho do Leste Europeu, da batata e cebola espanholas.

As séries estatísticas dizem-nos que já se produziu milho grão (1986 – 4948 t; 2019 – 11, 6 t), batata (1986 – 20686 t; 2019 – 175 t) e cebola (1986- 2096 t; 2019 – sem registo estatístico) e para alimentação animal o milho de forragem (1986 –97531 t; 2019 – 1427 t). Não se trata de voltar a produzir nessas quantidades, mas produzir com modos de produção sustentáveis adequados à dimensão das comunidades agrícolas locais e com opções vegetais para consumo interno e de alto valor comercial.

Ter-se-iam que analisar as submissões portuguesas à UE para se entender ao como chegamos hoje a um país tradicionalmente agrícola, mas que pouco produz e que tem critérios políticos desadequados a pequenas comunidades agrícolas, nomeadamente para a produção vegetal.

Potenciar a produção agrícola ao nível empresarial e a agricultura familiar.

Potenciar a produção agrícola vegetal para consumo e exportação nunca terá como objetivo concorrer com os agricultores franceses ou espanhóis, mas sim para atingir mercados onde se privilegia a marca verde que na agricultura também se pode afirmar. A produção agrícola vegetal necessita de apoios públicos mais robustos para se afirmar no mercado, isto à semelhança do que existe para o ananás, vinha e banana (produtos com subsídios que garantem o investimento à produção).

 

Valorizar os produtos regionais por parte dos comerciantes e consumidores

No campo hortícola e frutícola, pouco produzimos, e, por vezes, o que é produzido, é desvalorizado, pelos comerciantes, quer porque têm acordos de contentores de produtos importados ou porque não valorizam o que é produzido nos Açores ou pela imprevisibilidade de produção. No fim da cadeia estão os consumidores que nem sempre são “amigos” da produção local, por ventura, por desconhecimento do benefício da aquisição da produção local e porque também não exigem informação da origem e modo de produção dos produtos.

Estratégia pública de produção agrícola por ilha

Para produzir local os intervenientes necessitam de uma estratégia pública por ilha com metas e indicadores de produção vegetal (preferencialmente em modo biológico e regenerativo) para consumo humano e animal; informação de importações dos produtos vegetais e animais (para atestar a nossa capacidade de substituir alguma das importações); apoio financeiro a outras culturas e identificação de canais de escoamento interno e externos, para que haja o mínimo de previsibilidade para o investimento privado.

As opções (mensagens) públicas são um sinal para a sociedade. E o sinal nos últimos dias é positivo, falta concretizar.