Opinião

Nada se cria, tudo se perde e em nada se transforma

Pelas suas características insulares e singulares, a Região Autónoma dos Açores é um território suscetível à ocorrência de catástrofes e acidentes naturais. A história passada e recente assim (infelizmente) o tem demonstrado.
Esta suscetibilidade da Região levou à necessidade de uma preparação e planeamento prévio para a eventualidade da ocorrência de um evento natural com graves consequências para a população.
Tal conduziu à revisão do Plano Regional de Emergência com a consequente elaboração e publicação, em 2019,do Plano Regional de Emergência de Proteção Civil dos Açores (PREPCA) de modo a possibilitar uma resposta efetiva às situações de risco latentes na Região, definindo a coordenação técnica e operacional dos meios a ativar, bem como a adequação das medidas de carácter excecional a adotar.
Desde o passado sábado que na ilha de São Jorge se verifica atividade sismológica.
O Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), com o apoio do Comando Operacional dos Açores e das Forças Armadas, em poucas horas colocou uma equipa de técnicos no terreno para estudar o fenómeno.
Da parte do CIVISA, do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA),bem como das Câmaras Municipais de Velas e Calheta, vieram (e bem) os respetivos presidentes a público prestar esclarecimentos à população.
No que concerne ao PREPCA, tem competência para ativá-lo o SRPCBA, que é automaticamente ativado na sequência de emissão de declaração, pelo Governo Regional, da situação de calamidade pública regional, encontrando-se entre os critérios gerais para a sua ativação a iminência de ocorrência de uma situação potencialmente grave/ catástrofe ou a ativação simultânea de dois ou mais Planos Municipais de Emergência de Proteção Civil.
É público que tanto o município de Velas e Calheta já ativaram os seus planos municipais de emergência.
José Manuel Bolieiro, Presidente do Governo Regional, deu um ar de sua graça ao final do dia de domingo, sem querer "dramatizar", para dizer que a população de São Jorge deve estar "vigilante e atenta" como se tal não seja o mais básico que qualquer pessoa faz quando sente a terra a tremer...
Ao estilo do "nem aquece, nem arrefece" José Manuel Bolieiro veio a público afirmar que não queria dramatizara situação, mas também não queria criar uma mensagem de tal tranquilidade que não despertasse nas pessoas uma vigilância em sua própria proteção, realçando que o CIVISA e SRPCBA estão "atentos" e "assumirão todas as suas responsabilidades com prontidão".
População, CIVISA e SRPCBA devem estar "vigilantes", "atentos" e prontos a assumir as suas responsabilidades.
E José Manuel Bolieiro, Presidente do Governo Regional?
Esquece-se José Manuel Bolieiro que ao ser Presidente do Governo Regional é, por inerência, a Autoridade Política de Proteção Civil de nível regional.
Compete-lhe, a si, a responsabilidade de "desencadear, na iminência ou na ocorrência de acidente grave ou catástrofe, as ações de proteção civil de prevenção, socorro, assistência e reabilitação adequadas a cada caso".
Contudo, nos meses que tem de mandato, perante situações de eventos naturais com impactos significativos na população, José Manuel Bolieiro faz como o sol e... eclipsa-se.
Se em outras ocasiões demorou ou nem sequer reagiu perante situações que na sequência de intempéries acarretaram graves danos para a população, desta feita com toda a (ir)responsabilidade inerente, com a terra a tremer em São Jorge, José Manuel Bolieiro o que faz? Ir para o Brasil sem olhar para trás, caso não fosse a repugnância geral à sua atitude e comportamento, verificado através do seu gabinete para o escrutínio público e das redes sociais...
Com a desfaçatez de ainda vir a público salientar que em situações de proteção civil "antes excessivo na prudência do que negligente na ação"...
Já ouvimos e vimos isto no combate à Pandemia e viu-se ao que levou, portanto, enquanto Lavoisier nos ensinou que na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, José Manuel Bolieiro ensina-nos que neste Governo nada se cria, tudo se perde e em nada se transforma.
É mau demais para ser verdade.