Opinião

Alodoxafobia Governativa

Etimologicamente a palavra Alodoxafobia deriva das palavras gregas "állis" que significa outro ou diferente, "dóxis" que significa crença e de "fobia" que se concretiza num medo patológico. Basicamente esta condição pode traduzir-se numa sensação constante de julgamento, num medo permanente do que as outras pessoas possam pensar sobre o próprio.
Quem sofre desta condição e a pretende ultrapassar pode seguir por duas vias: ou procura enfrentar o seu medo e percecionar que na realidade acaba por não fazer sentido ter esse receio do que os outros possam pensar sobre si ou, em casos de maior dificuldade de controlo e extremos, procurar apoio psicológico, dependendo do impacto da fobia e, consequentemente, da menor ou maior capacidade que a pessoa tem em se autocontrolar.
Com a tendência crescente de "socialização" através das redes sociais e a necessidade premente de se escrever ou fotografar o que se está a fazer ou a pensar, a sujeição à opinião, julgamento ou, pior que isso, o aproveitamento alheio, torna-se de tal modo iminente que um "smile" com uma carinha menos satisfeita, um punho fechado com o dedo polegar para baixo ou um comentário menos positivo, podem ter repercussões muito significativas.
O XIII Governo Regional dos Açores, fruto de uma coligação entre PSD, CDS e PPM, apoiados pelo Iniciativa Liberal e Chega, enquanto estrutura organizativa e governativa, parece padecer desta condição humana.
O mais recente episódio do cancelamento da viagem ao Brasil do Presidente do Governo acaba por indiciar isso mesmo.
Senão vejamos.
José Manuel Bolieiro ia liderar uma comitiva que, de 23 a 30 de março, iria visitar as comunidades Açorianas do Brasil para "resgatar as raízes" açorianas dos descendentes da Região, comemorando os 270 anos do povoamento açoriano de Rio Grande do Sul e os 250 anos da fundação de Porto Alegre, passando ainda em Santa Catarina.
Até aí nada contra.
Perfeitamente compreensível.
Faz parte da ação governativa o estabelecimento de relações diplomáticas da Região com a Diáspora, ainda para mais com a componente histórica subjacente.
O que já não é compreensível e aceitável é que programada a viagem, com partida para dia 23 (quarta-feira), e com a crise sismovulcânica em São Jorge iniciada no sábado, dia 19 de março, tenha sido publicado um despacho na véspera da dita partida a determinar que o exercício do cargo de Presidente do Governo Regional dos Açores fosse assegurado pelo Secretário Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública, Joaquim Bastos e Silvae poucas horas depois (ao final da manhã),José Manuel Bolieiro tenha vindo, através do Facebook, anunciar que já não se iria deslocar ao Brasil.
Qual a razão para tão repentino volte face?
O acompanhamento da crise sismovulcânica "incansável", "ao minuto", de "dia e de noite" é que não parece ter sido.
O acompanhamento incansável, ao minuto, de dia e de noite, foi feito pelo Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores, pelo Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores e pelas estruturas municipais e residentes locais que rapidamente se deslocaram e reuniram localmente para se inteirarem da situação e, com responsabilidade, agirem em conformidade.
E, para tal, não necessitaram de qualquer comentário negativo nas redes sociais ou em artigos de opinião para, no fundo, fazerem o que tinham de fazer.
E a diferença acaba por ser essa.
Saber e saber fazer o que se tem de fazer e fazê-lo. Ponto.
E é isso que se exige a um Governo.
Mais ainda a um Governo que, não tendo sido eleito pelo Povo, se predispôs a assumir as "rédeas" de uma Região.
Se tanto era o ensejo e desejo de governar uma Região então que se governe.
Caso contrário o julgamento público será cada vez mais assíduo e negativo e esta alodoxafobia governativa será cada vez mais incapacitante.