Opinião

O meu modo, apenas, de me manter calado...

Vou de bota cardada a riscar no soalho.
Uma pequena rebeldia, já que me encontro, no mínimo, estupefacto. O que pensar disto? Ainda nem ano e meio se cumpriu de legislatura, e os tiques de sobranceria são já gestos assumidos sem qualquer espécie de vergonha ou pudor. É agora à descarada. Governantes regionais, do mais alto calibre, que, sem dó nem piedade, alegam não ir fazer nada às comissões da assembleia legislativa regional. Votos contra a audição de determinadas pessoas ou entidades diretamente relacionadas com os assuntos a tratar. Secretários regionais praticamente inacessíveis para disponibilizar audiências sem cor ou intenção partidária. A apresentação de documentos estruturantes para a nossa Região sem a mínima preocupação de auscultar todas as entidades diretamente envolvidas. A inapropriada e intencional forma de interromper o raciocínio de determinados deputados porque o tempo estipulado foi afinal já rigorosamente ultrapassado. Direções regionais onde determinados funcionários se deslocam convenientemente em biquinhos de pés. A crescente sombra, perseguidora, do procedimento disciplinar. As reiteradas alegações de que a oposição apenas saberá contrariar, como se a sua natureza tivesse que, efetivamente, ser outra. Talvez a de compactuar para não mais se opor. Tudo isto, afinal, técnicas de silenciamento recuperadas de há mais de uma vintena de anos atrás. Eu, vou de bota cardada a riscar no soalho.

E depois, ao que parece, o que interessa mesmo é parecer. Interessa lá aprofundar os assuntos de modo a que se produzam diplomas com visão e dignidade!... Não se vislumbram ganho de votos com delicadezas que tais. A destacadíssima preocupação é a de criar a popular ilusão de que a todos se consegue agradar, milagrosamente, de nada interessando saber do que está certo ou até mesmo do bem comum a médio prazo. Para onde nos levam assim? Ignoram-se técnicos de profundo conhecimento dos assuntos, profissionais de grande envolvimento e de há vários anos. Porquê? Precisamente pelo motivo de o serem, técnicos de grande conhecimento porque de grande envolvimento de há vários anos... de outros governos, enfim.
     
E a lei de Murphy desconhecia, mas é hoje um emplastro. A fila do lado anda sempre mais rápido. Quando é possível ser pior, será mesmo pior. Ignoram-se as pessoas, mas apresentam-se os trabalhos das próprias como se delas nunca tivessem sido. Tópico: o genial rasgo das novíssimas Orientações Curriculares de Inglês. Desmintam-me, se faz favor.

Tudo isto existe, tudo é triste, mas nada disto é fado.
Vou de bota cardada a riscar no soalho. O meu modo, apenas, de me manter calado...