Um artigo da edição do jornal Expresso da semana passada lembrava a pergunta fundamental que Loiola, santo espanhol, nos colocou. “De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?”
Ursúla von der Leyen, a Presidente da Comissão Europeia visitou Bucha, a cidade ucraniana que nos despertou para a crueldade de que os homens, afinal, são, ainda, capazes e disse: “Vimos a nossa humanidade estilhaçada”.
Putin, já sem alma, quer conquistar o mundo. Inebriado na ideia de poder, a expansão, geográfica e substantiva, do seu poder é a sua única causa. E as instituições internacionais mais as sanções que impõem, mostram-se incapazes de o deter. Até onde vai a crueldade dos homens?
Mas a questão interpela-nos também nos Açores, onde o PSD, que já há muito perdera a sua identidade social-democrata - o mesmo é dizer, os seus valores e princípios fundadores, perdeu a alma em 2020, quando decidiu associar-se à extrema-direita. Afinal, que importância têm os princípios perante o valor maior que é o exercício do poder?
Muitos dirão que exagero, mas não.
Veja-se a reação dos portugueses nas eleições de 30 janeiro, cujo resultado foi, ainda, reforçado com a repetição do ato eleitoral no círculo da Europa, com a qual o PSD conseguiu a proeza de perder o deputado que tinha elegido.
E quanto à extrema-direita, pese embora mantivesse uma base de apoio que lhe permitiu eleger 12 deputados, perdeu em votação relativamente às presidenciais, nas quais o seu líder foi candidato. Foram menos 98 mil votos. Os portugueses recusaram repetir no país a solução que o PSD encontrou para chegar ao poder nos Açores.
Na política regional, a semana foi fértil.
Ouvimos Bolieiro dizer que é "inaceitável" que o Serviço Nacional de Saúde seja um serviço do continente, ignorando, e só pode ser por má-fé, que o Governo do Partido Socialista consagrou a reciprocidade no acesso aos cuidados de saúde por parte dos utentes dos serviços regional e nacional.
No fundo, a direita que nos governa na Região, quer autonomia na decisão e corresponsabilização no pagamento. Sol na eira e chuva no nabal. Uma visão da autonomia de mão estendida que compense a incompetência na governação.
Ontem ficámos a conhecer mais um expediente no qual o governo regional se escudou para não demonstrar aos deputados como é que gastou, num só mês, mais de 100 milhões de euros de fundos comunitários, cerca do dobro do que gastou nos restantes 11 meses do ano em causa.
Deliberadamente, e com o único objetivo de impedir os deputados socialistas de fiscalizar o governo, como é sua competência, criou um conceito sui generis de conflito de interesses e atropelou competências que são exclusivas do parlamento.
De que vale conquistar o poder se o seu exercício é vazio de princípios e valores?
(Crónica escrita para a rádio)