Não é mais o parente pobre das áreas governativas. Não é mais. É agora um indigente, a Cultura, aquele membro da família que afinal ninguém reconhece e, ainda menos, deseja em casa abrigar. E que ninguém abrigou, definitivamente, feitas de novo as partilhas. Não há Cultura. Informa-se. Há agora assuntos culturais, que não todos, certamente, com tolerância excecional para com alguns, apenas, por parte da casa da Educação, para que se ocupe uma espécie de anexo a erigir num qualquer cantito mais sombrio de seus frescos jardins. Onde afinal repousam essas tão belas e tão claras ideias sobre a importância da Cultura propagandeadas por alturas da apresentação do Programa do XIII Governo da Região Autónoma dos Açores? Citando: "A cultura é um elemento construtivo da própria democracia e da Região. A cultura encerra em si a afirmação dos Açores no país, na Europa e no Mundo. (...) Será fundamental que sejam criados instrumentos de apoio à cultura regional e às realizações culturais, mais transparentes, justos e equitativos, que promovam a liberdade e diversidade de criação artísticas, nomeadamente, através do acolhimento de iniciativas e projetos de índole cultural, apoiando todos os agentes culturais, apostando em redes colaborativas e estabelecendo parcerias, potenciando ainda sinergias e incrementando contatos e oportunidades. O Regime Jurídico de Apoio às Atividades Culturais será o garante destas condições."- fim de citação. E esta, hem?! Que pensar, que dizer sobre isto?! Lamentável, não? É exatamente esta a parte mais lamentável e mais desprezível de se fazer política - a de propagandear aquilo que agradará ser ouvido, não tendo, afinal, qualquer pingo de intenção em cumpri-lo. Nem mesmo o imenso deserto de oportunidades profissionais a que, muito especialmente, os agentes culturais foram obrigados a atravessar por via da pandemia, sensibiliza este Governo Regional, exatamente o mesmo que também tanto gosta de, diariamente, apregoar que coloca as pessoas acima de tudo. No lugar de uma séria preocupação para que, efetivamente, tudo fosse mais célere e mais eficaz do que nunca no que concerne à execução dos (parcos) apoios previstos, abandonam-se as pessoas ao desespero pela conclusão dos apoios regulares e extraordinários relativos a 2021, e, como se tal bastasse, com absolutamente tudo por fazer no que a 2022 diz respeito. E depois, depois, explicações é zero, ninguém responde diametralmente por nada, ninguém é mesmo responsável seja por aquilo que for. Ninguém. De nada interessa. Aliás, se alguma vez os houve em 2021, os tais responsáveis, já lá não mora ninguém, qual vendedor ambulante ilegal que, vendo ao longe o fiscal, num ápice, ali deixou de existir. Não fosse a Direção Geral das Artes, ou seja, a ação segura e eficaz do Governo da República, e quantos agentes culturais teriam até hoje resistido a tamanha sova? Desenrasquem-se, meus amigos! - pensará, sem confessar, quem decide...
E depois será vê-los, peito feito, todos pomposos, aquando dos mais honrosos momentos alusivos à candidatura açoriana a capital europeia da cultura...