“literacia digital” é o conjunto de competências que tem assumido uma grande relevância nos nossos actuais modelos de sociedade, devendo ser desenvolvidas e aprofundadas em qualquer sistema de ensino que se pretenda actualizado e em sintonia com os recentes desenvolvimentos do mundo dos nossos dias.
a comissão europeia define “literacia digital” como “as habilidades necessárias para alcançar a competência digital, sustentadas por competências básicas em tecnologias de informação e comunicação e no uso de computadores, com o objetivo de recuperar, avaliar, armazenar, produzir, apresentar e trocar informação, e de comunicar e participar em redes colaborativas via internet.”
a “literacia digital” tem que ver, também, com habilidades em lidar com redes sociais, páginas online, sites, blogues, e-commerce e outros, mas, acima de tudo, é mais do que isto. a “literacia digital” tem que ver com a forma como o digital se integra nas nossas vidas, como é usado para expandir a presença e melhorar a qualidade de vida dos seus utilizadores.
esse conjunto de habilidades é dividido em cinco grandes áreas de competências, a saber: “literacia da comunicação”, “comunicação e cidadania”, “criação de conteúdos”, “segurança e privacidade” e “desenvolvimento de soluções.
é urgente assumir-se o papel que a “literacia digital” tem na formação de cidadãos do mundo digital info-incluídos, seguros e conhecedores dos seus direitos e deveres no mundo cibernético, conscientes da sua pegada digital e da forma como a sua actuação define hábitos e padrões de conteúdos. essa assunção deve fazer-se ao nível das camadas etárias da população, com campanhas informativas em contexto social, de trabalho, de lazer, desporto, educação, saúde, assim como acções de formação junto das populações, com conteúdos tão vastos como sistemas operativos, como configurar telemóveis, redes e comunicações, segurança e privacidade dos dados pessoais, navegação segura na internet, redes sociais, reconhecimento de fake news e clickbaits, técnicas de phishing, manutenção de equipamentos, optimização de aplicações e equipamentos, entre outras e muitas outras temáticas importantes.
isto aplica-se, naturalmente, às escolas – docentes, pessoal educativo, pais, encarregados de educação, alunos – e ao sistema de ensino em geral. a consciencialização de que a utilização da internet tem pressupostos próprios, acordos com validade legal entre utilizador e aplicação, histórico, linguagem de programação, código-fonte, entre outros “bastidores” do ecrã apresentado é essencial para uma cidadania digital plena.
desengane-se quem pensa que os membros das novas gerações são nativos digitais. não são. de todo.
os dispositivos móveis é que são desenhados para poderem ser operados por crianças em idade pré-escolar e faz-nos ter a sensação de que são as crianças muito avançadas por conseguirem operar um dispositivo móvel e não a de que o dispositivo móvel é básico o suficiente para ser utilizado por uma criança.
aliás, bastará a uma criança observar o comportamento dos pais com os seus dispositivos móveis para copiá-los na primeira oportunidade em que tiver um dispositivo nas mãos.
o ser capaz de fazer “like” numa publicação do facebook, seguir uma conta no instagram, ou dar permissão ao “tik tok” para aceder à câmara e ao microfone do telemóvel não acrescenta nada à literacia digital de quem o faz. tanto que qualquer criança consegue fazer qualquer uma das três anteriores acções.
é saber o que é uma notícia fidedigna, não permitir malware ou randsomware através de boas práticas de navegação, salvaguardar os seus dados de utilizador e palavras-passe de forma a evitar hackers ou phishing, tendo sempre em mente que as tecnologias evoluem e os métodos e técnicas para a fraude também.
é isto e é muito mais. algo que passa também pela utilização da autenticação de dois-factores para garantir operações com a segurança social, a autoridade tributária, a direcção-geral de viação, o ministério público, os bancos, as autarquias, juntas de freguesia, entre tantos e tantos outros exemplos de onde a literacia dos cidadãos fará toda a diferença e ditará, a longo prazo, a linha que dividirá os bem sucedidos dos excluídos.
de novo, achar que os nossos jovens já “nascem com o dedo para o tablet”, ou são “nativos” no que quer que seja que não lhes tenha sido explicado ou ensinado, é errado. assim como é errado pensar que os jovens, por perderem tanto tempo a mexer nos seus telemóveis, os conheçam de trás para a frente e da frente para trás, ou saibam tirar o máximo partido das capacidades daquele “palmtop” evoluído. na maior parte das vezes, os jovens repetem acções iguais entre aplicações (vá, jogos) e não exploram as possibilidades existentes.
é preciso educá-los, dar-lhes literacia, no digital.
é preciso ensinar as pessoas que o telemóvel é já uma parte delas, como que uma extensão digital da sua existência – com acesso a máquina fotográfica, telefone, fax, digitalizador, computador, gps, giroscópio, bússula, leitor de código de barras, tudo isto num objecto que cabe num bolso.
a maravilha tecnológica merece uma utilização maravilhosa. é preciso olhar-se para os telemóveis como mini-portais para o resto do mundo, do qual e para o qual tudo flui, tudo o que queremos que flua, com que nos identificamos, com que interagimos e aguardamos a interacção.
olhando para as possibilidades, continuo a achar estranho que não se possam usar os telemóveis ao invés das calculadoras científicas exigidas para a escola e para os exames nacionais. uma aplicação paga de calculadora será uma ínfima parte do custo de se obrigar os estudantes a comprar uma ti ou casio ou hp xpto – quando o telemóvel faz isso e muito mais.
da mesma maneira que não me faz sentido que se ande com um dicionário em papel quando uma aplicação paga de dicionário no telemóvel faz o seu papel – passe o pleonasmo – e ainda tem a possibilidade de nos dar a pronúncia e sonoridade da palavra. não sei.
não sou especialista. mas faz-me confusão, isto.