Opinião

Sobreviver…

O Governo dos Açores, à boca da segunda metade do seu mandato, procura já penosamente um ar de segunda virgindade. Governo transformista, nasceu dependente de conservadores, liberais e cheganos, numa caranguejola que só comungava ódio ao PS e apego ao poder. O transformismo evoluiu para um estádio superior da arte circense: o trapezismo. Perante a inação de vários departamentos, o governo anunciou passagens a 60 euros, para mais tarde murmurar a troca com o fim dos reencaminhamentos; baixou os impostos até ao máximo legalmente possível, de forma indiscriminada e promete atentar, casuisticamente, nas reivindicações desgarradas de algumas carreiras da função pública, mas só desde que se possa dizer que o governo anterior “não ouviu”. Entretanto, dedica o resto do tempo a apagar o “fogo amigo”, dos aliados que berram na praça pública que vão lançar fogo à barraca se não derem quatro viaturas de bombeiros às corporações da sua devoção! Com a mexida, o Governo, e a geração do PSD que está, admitiu a sua impotência e apostou na veterania reformada. Essa confissão deixa em absoluto desuso, e não reutilizável, os argumentos da mudança, da renovação e dos longos 24 anos: este PSD não tem saudades do futuro, antes quer ressuscitar, em desespero, uma “idade de ouro” que nunca existiu! Como se compra sempre o “pacote”, é claro que o espírito de seita ressuscitou em todo o seu esplendor: não se gosta do inamovível (por quatro anos) provedor do utente da Saúde? Extingue-se o cargo, e cria-se uma espécie de sucedâneo, de asa cortada e em lista de espera da discricionariedade do chefe; há notabilidades nas nossas empresas públicas, cujo génio se não viu? A autonomia do atraso há-de mobilizar um afeto sacramental, acompanhado do perfume justificativo anticheiro a refogado…