Encontrando-se na base do surgimento de várias doenças crónicas, a alimentação inadequada foi, em 2013,apresentada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no seu Action Plan for the Global Strategy for the Prevention and Control of Non Communicable Diseases, como um dos quatro principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, cancro, doenças respiratórias crónicas e diabetes.
Para além das orientações e recomendações internacionais, também a realidade regional, com uma prevalência de excesso de peso e obesidade infantil preocupantes, justificavam um enfoque na alimentação saudável como uma estratégia a seguir para o futuro.
Desse modo, no último Plano Regional de Saúde, cuja vigência terminou em 2020, um dos objetivos estabelecidos incidiu na promoção da saúde e da literacia em saúde, com o desenvolvimento de atividades de educação para a saúde em meio escolar, sendo abordadas áreas consideradas prioritárias para a Região, nomeadamente, a alimentação saudável.
Nesse sentido, foram desenvolvidos vários projetos, programas e iniciativas que, ao longo da última década, evidenciaram a sua mais-valia, revelaram e revelam resultados, com ganhos em saúde para a população Açoriana.
Prova desses ganhos foi obtida em 2019, com os resultados da 5.ª ronda do Childhood Obesity Surveillance Iniciative (COSI) da OMS Europa que, através do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), elaborou e disponibilizou o relatório do COSI Portugal, caracterizando o estado nutricional infantil das crianças portuguesas em idade escolar do 1.º ciclo do ensino básico, dos 6 aos 8 anos de idade.
Vista a evolução desta 5.ª ronda (2019) para a 1.ª ronda, realizada em 2008, todas as regiões portuguesas mostraram um decréscimo na prevalência de excesso de peso (incluindo obesidade). Pese embora os Açores apresentem a maior prevalência, foi cá que o decréscimo foi mais acentuado, com uma diminuição de 10,7% (46,6% em 2008 vs 35,9% em 2019).
Com uma diminuição de 46,6% entre 2008 e 2019 é efetivamente de enaltecer todo o trabalho desenvolvido.
Já esta semana a Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI), em conjunto com o Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB) da Faculdade de Medicina de Lisboa, revelaram as conclusões do relatório Heróis da Fruta: Lanche Escolar Saudável.
Lançada em 2011, a iniciativa Heróis da Fruta teve como principal objetivo aumentar o consumo de frutas e legumes na infância.
Em 2014, a APCOI deslocou-se à Região e assinou um protocolo de cooperação com o Governo Regional para a implementação da iniciativa no ano letivo 2014-2015 em todas as escolas do 1.º ciclo e pré-escolar do arquipélago.
Passados estes anos os resultados estão à vista.
"Nos Açores, a percentagem de crianças que reportaram não consumir frutas ou legumes diariamente na escola antes do programa era de 24,5%. Depois do programa diminuiu para 1,6%, o número mais baixo do País".
"A percentagem de crianças que reportaram levar lanches pouco saudáveis para a escola antes da intervenção era de 17,6% e depois reduziu para 2,1%, igualmente o número mais baixo do País".
Em comunicado, a APCOI salientou que nos Açores foi onde se "registou a maior diminuição da ingestão de lanches escolares pouco saudáveis com uma percentagem de 88,1%".
Estes são resultados que atestam o bom caminho trilhado ao longo da última década, e que contrastam com as conclusões do estudo relativamente a uma amostra de crianças entre os 2 e os 14 anos de idade no ano letivo 2021/2022.
Os Açores ficaram abaixo da média nacional no que se refere à percentagem de turmas com acesso a fruta distribuída gratuitamente na escola: 41,7% ao passo que a nível nacional se situava nos 60,5%.
É um dado importante a registar.
Qual a estratégia e o plano para a próxima década?
Não se sabe.
Como referi, o último Plano Regional de Saúde terminou em 2020.
Bem bom que ainda temos Heróis da Fruta.