Estamos, como todos já percebemos e já sentimos, a passar por momentos de extrema instabilidade, com todos os mercados económicos a sofrerem alterações que têm resultado numa das maiores crises inflacionistas que o mundo já se deparou.

Tenho vindo a defender que os Estados devem pôr em prática a criação de instrumentos e condições que possam mitigar os impactos que esta instabilidade económica tem nas famílias, nas empresas e em todas as organizações.

Neste sentido, parece-me óbvio que os orçamentos públicos são os documentos que mais têm a responsabilidade de refletir quais serão estes instrumentos e quais serão estas condições.

Pois bem, já são conhecidas as propostas de Orçamento de Estado e Orçamento da Região Autónoma dos Açores e na minha opinião, por incrível que possa parecer, a proposta de Orçamento do Estado responde mais às necessidades que os Açores enfrentam que a proposta de Orçamento da Região.

Senão vejamos:

Enquanto temos um Governo na República que, conjugando as medidas recentemente adotadas e que terão resultados já este mês e o acordo de concertação social conseguido no final da semana passada, apresenta um Orçamento de Estado completamente direcionado para o combate a esta inflação e aos impactos que ela está a ter, nos Açores temos um Orçamento da Região que reflete bem a ideia de que em termos de combate à inflação este Governo de coligação já tudo fez com a baixa do IVA.

Enquanto temos um Governo na República que aposta claramente no investimento público como uma das formas de manutenção dos níveis de emprego e manutenção do crescimento económico, apesar de ser um crescimento menor, nos Açores temos uma proposta de orçamento que reduz o investimento público num ano que se avizinha bem difícil.

Enquanto temos um Governo na República que, apesar de todos os esforços que terá de fazer para responder a esta crise, prevê mesmo assim continuar a diminuir a dívida do Estado, nos Açores temos um Governo que mente dizendo que opta por um endividamento zero quando este é um imperativo legal por já ter excedido o seu limite de máximo.

Resumindo, aquilo que o atual Governo dos Açores se prepara para fazer, perante uma situação de crise, é implementar a receita fracassada por toda a Europa de diminuição do investimento público e que teve consequências por todos os setores da economia, sobretudo no emprego.

(Crónica escrita para Rádio)