Opinião

A narrativa não convence

Apresentei no passado dia 9 de setembro, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, uma proposta para que o Governo suspendesse as decisões de terminar com o transporte marítimo de passageiros, viaturas e carga rodada entre todas as ilhas dos Açores e o fim dos encaminhamentos dos passageiros aéreos não residentes, onde se incluem os Açorianos a viver fora da Região.

Reconheço legitimidade ao atual Governo para discordar dos modelos existentes, reconhecendo-lhe, também, a legitimidade para alterar com o intuito de fazer melhor.

E mais. Se resolver estudar melhores soluções, também nada tenho contra, mas o que se exige é que mantenha aqueles serviços até arranjar alternativa. É apenas isso que está na génese da proposta apresentada.

Mas não foi o caso. O Governo suspendeu essas duas prerrogativas da coesão regional, que, para algumas ilhas, eram fundamentais, sem encetar diálogo com os legítimos representantes de cada uma das nossas ilhas e sem propor nada para os substituir. Foi fechar e pronto, o que contradiz, e muito, a postura que o Governo gosta de fazer transparecer.

Relativamente ao transporte marítimo as coisas tornam-se mais graves quando revisitamos o que disse o maior partido desta coligação no passado recente.

Relativamente à Graciosa é o que se sabe. Mesmo tendo um navio ferry a cada 1,6 dias, o PSD dizia cobras e lagartos, exigindo mais e considerando, mesmo assim, que a Graciosa estava a ficar para trás.

A atual titular da pasta dos transportes ambicionava, em 2012, um sistema de transporte marítimo ainda mais forte, com ligações diárias entre todas as ilhas do grupo central e oriental e bissemanais com as do grupo ocidental e, imagine-se, durante todo o ano, conforme também está bem explicito nos compromissos eleitorais do PSD de 2020.

Estas conquistas dos Açorianos foram por água abaixo sem alternativas e isso faz com que as desigualdades entre ilhas se avolumem.

Vejam-se os números. Tendo em conta o período de janeiro a agosto do corrente ano, comparando com igual período de 2019, verificam-se grandes desequilíbrios no crescimento das dormidas. A Terceira cresce 14%, Faial e S. Miguel mantêm mais ou menos as mesmas dormidas, enquanto a Graciosa regista -16%, S. Jorge -15% e Santa Maria -10%. São precisamente estas três últimas ilhas as mais penalizadas em termos de acessibilidades e estão a pagar pelas decisões lesivas tomadas de forma unilateral.

Num momento em que o turismo cresce em todo o país, e não só, muito à conta do desconfinamento, aqui nos Açores temos, pelo menos até agosto, mais ou menos as mesmas dormidas, apesar da narrativa que tem tanto de eufórica como de falsa.

De facto, a retoma caminha, mas a várias velocidades e parece que ninguém quer saber.