Opinião

Hipopótamo

Durante quase dois anos, os profissionais do serviço regional de saúde estiveram na linha da frente do combate à pandemia. Hoje, ultrapassada a fase crítica da doença, com a maioria da população vacinada, tende-se a esquecer aquele período em que médicos, enfermeiros, técnicos, assistentes e demais trabalhadores e prestadores de serviços no setor da saúde foram a guarda avançada de um combate sem quartel que paralisou a economia mundial e provocou mais de 6 milhões de mortes. Hoje, felizmente, já não há incerteza, nem confinamentos nem milhões a trabalhar remotamente. Mas, devia haver memória. Mesmo sem pandemia, no Serviço Regional de Saúde a maioria dos médicos já prestava mais do que as obrigatórias 150 horas anuais de trabalho suplementar. São, por isso, incompreensíveis as declarações do Vice-Presidente do Governo Regional quando, a este propósito, disse que os médicos “não podem usar o dinheiro como moeda de troca para dispensar a prestação de cuidados” e que isso corresponde a uma “violação grosseira” da ética. Num tema sensível, a exigir ponderação e diálogo, Lima teve tanta sensibilidade política quanto um hipopótamo que pula airosamente de nenúfar em nenúfar.