Sou pela segunda vez deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, eleita pelo círculo eleitoral da ilha Terceira, a primeira vez entre 2000 e 2004.
Os primeiros 4 anos deste século foram riquíssimos. Integrei a Comissão de Economia, passei a conhecer os Açores "por dentro e por fora", passei a valorizar de outra forma a função dos deputados e o papel dos órgãos próprios da Região Autónoma dos Açores.
Fui novamente eleita passados 20 anos, num enquadramento político e social diferente, com funções idênticas é verdade, mas não é menos verdade que eu já não sou a mesma e os Açores também já não são os mesmos.
Os trabalhos na Assembleia têm diferenças substanciais, nem sempre para melhor, mas mesmo assim mantenho e até reforcei a ideia de que o papel e as atribuições dos deputados, qualquer que seja o lado que nos encontremos, é fundamental para a defesa do desenvolvimento coeso das nossas nove ilhas.
Entristece-me, por isso, que tantas vezes sejam enlameados e desvalorizados os eleitos regionais, não estando os próprios eleitos isentos de responsabilidades nessa matéria. Apesar desses ataques permanentes (alguns deles de caráter)continuo a sentir-me muito honrada pela confiança, e, sabe quem me conhece, que continuo a não virar a cara à luta.
E é por isso que me custa sobremaneiraque, perante documentos tão importantes como o Plano Regional de Investimentos e Orçamento para 2023, a tónica dominante nos parceiros sociais da minha ilha seja de resignação perante a ineficácia reinante nos últimos dois anos de governação dos Açores e de apatia perante a ausência de perspetivas de futuro.
Temos um Governo tripartido que não tem uma estratégia para o desenvolvimento dos Açores e por maioria de razão não tem uma visão para a Terceira. Temos um Governo que faz apenas a gestão corrente da sua sobrevivência. Já vai no terceiro Plano de Investimentos e no que à Terceira diz respeito é um tal entra e sai de ações sem consequências. A exemplo, o ano passado tínhamos previsto executar dois Centros Interpretativos do Algar do Carvão e da Base das Lajes. Qualquer um dos dois não avançou, e desaparecem também das intenções para o próximo ano, mas qual não é a surpresa que surge um novo Centro Interpretativo desta feita sobre a Batalha da Salga. Sendo este um dos maiores investimentos previstos para a Terceira, sobre ele nada se sabe e sobre ele também nada é dito.
Pouco mais temos. Voltamos a ter o compromisso de obras na Aerogare, já previstas em 2022 e não concretizadas. E já agora sobre a ampliação da placa do aeroporto nada se volta a dizer.
Sobre o acesso norte ao Hospital, nada se diz. Sobre o Laboratório SEEBMO, continuamos a marcar passo. Quanto ao futuro do Porto da Praia, nada. E o Cais de Cruzeiros? Muito menos.
Em jeito de conclusão, o Plano de Investimento para 2023, no que à ilha Terceira diz respeito, prevê um corte de 40% do investimento público face a 2022, traduzindo uma redução inegável, em termos absolutos, de 83 milhões de euros, que sendo por si muito mau, é pior ainda pela total ausência de perspetivas e de soluções.
É isto que queremos para a Terceira?