Parece inacreditável, mas é mesmo isto que se passa.
No plenário de novembro passado tivemos a confirmação, por parte do Sr. Secretário Regional da Agricultura, António Ventura, que afinal o apoio à redução voluntária de produção de leite só vai chegar… para o ano.
O Governo Regional gerou nos produtores a expectativa de que reduzindo a sua produção, estes iriam receber um apoio de 150 euros por cada tonelada de leite reduzida na sua exploração. Um apoio prometido no início de 2022 e que seria pago em outubro. Mas, foi preciso chegar a novembro para o Secretário da Agricultura dizer que o apoio, afinal, já só chega em 2023. Entretanto, este ano, já houve uma quebra de 32 mil toneladas no leite entregue à indústria.
Ou seja, graças ao Governo Regional, os produtores de leite ficaram sem leite, sem animais e sem apoio. Este Governo, que tanto dizia que não ia fazer rateios, afinal de contas encontrou uma forma encapotada de o fazer, empurrando os apoios prometidos para o próximo ano, restando saber se os vai efetivamente pagar e, se sim, se pagará tudo.
Nos Açores, a Agricultura - com grande enfoque no leite e lacticínios - tem um peso brutal na economia local. Temos animais de excelência, tal como se comprovou, mais uma vez, no Concurso Micaelense Holstein Frísia de Outono, realizado no passado fim-de-semana. Temos até um Secretário da Agricultura que assume a região como produtora de leite. E a solução ‘mágica’ do Governo é criar um apoio à redução da produção, procurando dar a entender que o aumento do preço ao produtor teve, única e exclusivamente, a ver com isso.
O que se passou, na verdade, foi que com os pesadíssimos aumentos dos custos de produção (essencialmente combustíveis, rações e fertilizantes), os produtores não tiveram outra hipótese senão reduzir a sua produção, porque se tornou incomportável produzir leite nestas condições.
E os mercados reajustaram-se. Os EUA aumentaram as suas importações de leite em pó da União Europeia, para colmatar o decréscimo na sua própria produção, o que fez com que o preço cobrado ao consumidor subisse e, isso, naturalmente, tem de se refletir no produtor.
Em Portugal Continental, por exemplo, não houve nenhum programa de redução voluntária de produção de leite e o que é facto é que o preço do leite ao produtor subiu mais rápido e com maiores aumentos do que nos Açores. Mas esta parte o Sr. Secretário preferiu não contar!
Feitas as contas, com a subida de gasóleos, rações e fertilizantes, estará o produtor a receber mais?
Temos um Governo sem rumo! Em algumas ilhas onde seria preciso estimular a produção, governa o silêncio. Noutras incentiva-se a redução e a conversão para carne, perdendo mercado e colocando em risco algumas indústrias, principalmente as mais pequenas. Noutras ilhas fecha-se cooperativas, acabando com negócios de grande tradição.
Como ficaria, por exemplo, o Queijo São Jorge, se os produtores jorgenses baixassem drasticamente a sua produção leiteira? Impõe-se pensar a Agricultura Açoriana ilha a ilha, mantendo a visão do todo.
Ao Governo Regional cabe trabalhar para melhorar a vida dos produtores, para criar condições. Não lhes retirar o sustento, nem os puxar para baixo num momento de grande agonia. E, seguramente, não lhes tirar os animais, o leite e o rendimento, em nome de um apoio que há-de vir e que tarda em chegar.