As dependências e os consumos de substâncias psicoativas voltam a ser notícia pelos piores motivos. Os números dos consumos na nossa Região continuam a aumentar e os indicadores entre os mais jovens continuam a ser preocupantes. Não vale a pena tapar o sol com uma peneira neste assunto.
Nos Açores, apesar de existirem várias entidades, públicas e privadas, que têm como principal objetivo a dissuasão ou o tratamento, falta ir mais além. O trabalho que fazem é meritório, mesmo que por vezes possa parecer inglório.
E uma das coisas que falta, na minha opinião, é a implementação de estratégias para uma verdadeira inclusão das pessoas que estão a passar por períodos de tratamento e recuperação. E isso não é possível fazer sem a conjugação de esforços do Governo, das autarquias, das próprias organizações que trabalham esta problemática, de instituições culturais e desportivas, das empresas e de toda a sociedade em geral porque, se parte depende de ações médicas e terapêuticas que devem ser conduzidas por profissionais para isso habilitados, outra parte tem de envolver-nos a todos.
Não é possível recuperar uma pessoa deste flagelo se a sociedade continuar a discriminá-la pelo seu passado, não é possível dissuadir uma pessoa de uma possível recaída se não lhe dermos condições para que possa viver condignamente e possa dar o seu contributo, não é possível ajudar estas pessoas sem ajudar também as suas próprias famílias.
A sociedade não deve penalizar aqueles que, por algum motivo, erraram no passado. Esse passado já é deveras penalizador e não devemos ser nós a dificultar a sua recuperação.
Por tudo isso é que me parece urgente trabalharmos esta parte do combate desmistificando e sobretudo quebrando a estigmatização que acaba por meter injustamente no mesmo saco aquilo que deve ser olhado de forma diferente.
(Crónica escrita para Rádio)