Opinião

Visionário, o plano, para a Praia da Vitória...

"Pensando em conseguir, de uma só vez, todos os ovos de ouro
que a galinha lhe podia dar, ele a matou
e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela."
Esopo

Esventrar a galinha dos ovinhos de ouro! E que tal, hum!? Não é bravo?! Muito boa ideia, sim senhora! Eu rendo-me! Só não é original, diga-se de passagem, mas sem problema, nunca é bem por aí que o mal galga terra adentro. É já um conto, verdade, e afamado até, como é sabido. E talvez o tenham lido, algures, nada mais natural, certíssimo, mas apenas a notinha: o entusiasmo foi tal em aplicá-la, à ideia, que se terá descurado o pormenor em ler o conto até final. Ora confessem lá!...Foi a falha de um detalhe, não é assim!?

A frágil economia da Praia da Vitória, tal e qual como é comum, suporta-se nas resilientes empresas (ainda) nela sediadas. Naturalmente. E então, posto isto, vamos lá abrir a barriguinha à galinha, e toca a tentar espremê-la até não poder mais, cobrando-lhe, no limite, todas as taxas e impostos ao alcance da gestão camarária. Simples. É então esta a teoria do atual executivo. Felizmente, teoria que nem quem supostamente a iria apoiar em sede de assembleia municipal, foi capaz de o fazer. Que nos valha ao menos isso.

A incapacidade de encontrar soluções é catastroficamente desastrosa para a cidade, e a exclusiva visão de quem atualmente a lidera é a do carregar mais e mais em quem (ainda) por esta terra se encontra, no lugar de a todos apresentar medidas de captação de novas empresas, de gerar economia, ou seja, de efetivamente trabalhar naquilo para o qual se foi eleito. Argumento: não, a culpa não é nossa, é todinha do PS, e agora não há quem connosco negoceie se não apresentarmos medidas convincentes. Ó Minha nossa...! Mas então que especialistas em economia são esses - entidades bancárias, por suposto -, que disponíveis se encontram para um eventual apoio financeiro estando este alicerçado no visionismo de que hoje se cobrará tudo o que é possível a quem (ainda) por cá está, e no limite da lei? Num imediato amanhã, resistiriam não mais do que dois ou três loucos sadomasoquistas, não mais, certamente, perante a evidência de que, uns metrinhos mais ao lado, concelho vizinho, não se tem por bizarro hábito andar por aí a esventrar quem mais ajuda e quem mais cria riqueza.

Assim não vale. Não vale propagandear através de um manifesto eleitoral, prometer tudo o que o eleitor quer ouvir, caçar-lhe o voto à má fila através das mais fáceis e falaciosas promessas, para que depois, e uma vez já sentados na tão ambicionada cadeira do poder autárquico, trair quem confiou seu voto, e empurrá-lo ravina abaixo, lavando serenamente as mãos do não cumprimento das promessas por alegado desconhecimento daquilo ao que ia. Candidatamo-nos a cargos executivos de tamanha responsabilidade não se sabendo ao que se vai? É isto assim? E depois, como dizer que se não conhece os orçamentos do município, quando o escrutínio público nunca, como nos tempos que correm, foi tão obrigatoriamente acessível a todo e qualquer cidadão minimamente interessado?

Não, não senhora! O caminho é de faca nos dentes, correndo atrás da galinha, nem dando conta de que a assistir à cena, assim como que impávidas e serenas, se encontram inúmeras candidaturas de milhões a projetos europeus desesperadamente ansiosas por ser apanhadas. E é isto...

Criminosa gestão camarária, pergunto, é o ato de se recorrer aos possíveis recursos de um município para ajudar as famílias sem meios onde se agarrar para a sobrevivência diária, ou não, e é afinal o seu inverso, a que severamente castiga, sem dó nem piedade, o seu povo, na obstinada ignorância de que o bem se pratica enchendo de modo emergente o cofre à custa do empobrecimento galopante das pessoas?

Apesar do tanto que já vi, verdade, confesso-me incrédulo.