Opinião

O executivo da comoção

Anda um espectro pelo Governo Regional, o espectro de um governo socialista. Todos os poderes deste novo, mas velho em espírito, Governo se aliaram para uma santa caçada a este espectro, o Vice-Presidente e o Presidente, liberais micaelenses e monárquicos corvinos.

Onde está o debate em que o maior partido regional não fosse vilipendiado pelos seus adversários como tendo exercido o poder executivo.

Esta variação do Manifesto Comunista, não corresponde a um Manifesto do PS/A, apesar de ser já tempo dos socialistas contraporem à lenda do espectro do governo a sua visão para os Açores, mas sim à descrição do modus operandi de um Governo caduco que se limita a conduzir a Região de olhos fixos no retrovisor.

Afixação com o passado limita a capacidade do GRA para resolver, na altura devida, os problemas que vão surgindo, tendo transformado um órgão executivo de ação, num executivo de comoção, que se limita a exprimir solidariedade quando os problemas são já sentidos pelos açorianos, como com o aumento da eletricidade.

Esta obsessão foi visível aquando da divulgação pelo INE do aumento do risco de pobreza e do índice de Gini entre 2020 e 2021.

Entre 2017 e 2020, o risco de pobreza reduziu de 31,6% para 21,9%, enquanto o índice de Gini passou de 37,9% para 33%, já em 2021, primeiro ano do atual GRA, a taxa aumentou para 25,1% e o índice para 34,8%.

Perante o agravamento daqueles indicadores, a reação do executivo limitou-se a um post referindo que os valores de 2021 eram inferiores a 2017, omitindo serem superiores ao ano anterior.

Comparar taxas não minimiza o risco de pobreza nem combate a desigualdade, mas essa é a reação instintiva de quem vive focado no passado ignorando o futuro.

A ambição do GRA devia ser fazer melhor ano após ano, e não fazer comparações com os anos que lhe dão jeito, pois tal não afasta a conclusão, por mais coloridas que sejam as publicações, de que em 2021, em matéria de pobreza e desigualdade, estamos pior do que em 2020.