Opinião

O elo mais fraco

Os Açores foram palco, durante esta semana, de uma sucessão de episódios que refletem o verdadeiro estado da (des)governação em exercício nestas nossas 9 ilhas. A instabilidade já se faz sentir há muito, agudizando-se a cada dia que passa. Se dúvidas houvesse sobre a sua origem, os mais recentes acontecimentos deixam a descoberto o que para muitos já era evidente.

A fonte da instabilidade vivida nos Açores é o próprio Governo Regional, com particular responsabilidade do seu Presidente. Por mais que vociferem que são o referencial da estabilidade na região, todas as notícias que nos chegam evidenciam exatamente o seu contrário.

Sempre que o Presidente do Governo Regional sente necessidade de referir-se a si próprio, relembrando que é o Presidente do Governo, atesta a necessidade de o evidenciar – porque pela sua ação, não convence.

Sempre que o Presidente do Governo clarifica que os partidos da coligação sabem que é ele que manda, assevera que é necessário lembrar disto – mesmo que não surta qualquer efeito na sua ação.

A sua inexistente capacidade de liderança e a sua dificuldade na tomada de decisão – já assim o demonstrou enquanto autarca – têm sido a sua imagem de marca. A par, é certo, do seu discurso de pretensa humildade e solidariedade, que embora importante, não é suficiente por si só. Se resolvessem problemas! Mas não, não resolvem. Devem lá estar, é certo, mas a capacidade de governar exige muito mais.

A última avalanche teve início com o pedido de demissão do Secretário da Saúde e Desporto, alegando motivos única e exclusivamente políticos. Citando o próprio “Faço-o por razões exclusivamente políticas, assentes em divergências insanáveis e inultrapassáveis, evidenciadas em sucessivas ingerências no exercício do cargo para o qual fui nomeado, dificultando, quando não impedindo, o cumprimento da complexa missão de gerir o setor”. Quando o Presidente do Governo não consegue pôr cobro a processos destes, sacrificando o Secretário de uma das maiores pastas governativas, está tudo dito. Passamos a ter a certeza que a liderar os destinos dos Açores estão muitos, mas entre eles não encontramos o seu Presidente. O Dr. José Manuel Bolieiro não manda, apanha cacos e fica com a incumbência de dar uso à sua capacidade discursiva – muito própria – tentando convencer os Açores (e acredito que a si próprio) que é ele o elo mais forte.

Nas suas declarações sobre a saída do ainda Presidente da SATA, o Presidente do Governo envergonhou(-se) com um discurso egocêntrico e de autoelogio, que em nada tranquilizou os açorianos. Não é por afirmar ser o referencial de estabilidade e de estar focado em soluções, que faz com que seja verdade.

Não bastasse todo este desmando, segue-se a criação de um novo organismo, a Estrutura de Missão para o Acompanhamento do Financiamento da Saúde nos Açores - EMAFIS, nomeando o Governo Regional a Dra. Cristina Fraga para presidir à mesma. Relembrar a sua passagem pelo Hospital do Divino Espírito Santo como presidente da administração, um percurso rico em divergências internas, culminando com o seu pedido de demissão a 2 de dezembro passado. Pese embora o histórico, é agora a escolha deste governo para presidir a este novo organismo. A sua manutenção é, evidentemente, uma exigência de um dos coligados. E, mais uma vez, o Presidente do Governo cede. Não há outra explicação para esta nomeação após tudo o que se passou.

Toma posse, ainda, a nova Secretária da Saúde que assume a pasta já na sombra da nova Estrutura de Missão.

Não fossem todos estes acontecimentos grotescamente tristes para a nossa Região, ainda temos, em dia da mulher, o Presidente do Governo Regional a afirmar, a propósito da nomeação da Secretária da Saúde e Desporto, e passo a citar “demos mais uma oportunidade a uma mulher para ser membro do Governo”, para além de altamente desmerecedor para a nomeada, traduz bem a visão do Presidente do Governo sobre as mulheres… precisam que alguém lhes dê uma oportunidade. Esquece-se que sendo homem teve de coligar-se para ocupar o lugar que ocupa. E para quê? Para isto?