Opinião

A normalização da instabilidade

Depois de termos assistido à saída de mais um membro do Governo, deixando bem claro que era por dissidências internas, assistimos na passada semana ao rompimento, pelos mesmos motivos, dos acordos parlamentares que ainda existiam e que, bem ou mal, eram os termos da garantia política da atual solução governativa.

Somou-se, entretanto, a estes factos algo que não sendo novidade passou a ter eco na comunicação social açoriana. Refiro-me às vozes do PSD/Açores por várias ilhas que, se queixando da ausência de uma verdadeira liderança do seu Presidente decidiram expor publicamente o que achavam da atual situação política nos Açores.

Digo que não é novidade porque as vozes discordantes à ausência de liderança do PSD nesta coligação sempre foram um motivo de desconforto dentro do partido.

Ou seja, os Açores neste momento deparam-se com um Governo que não venceu eleições, formado com base em acordos que já não existem, com um Presidente que não se consegue impor enquanto líder e com a arrogância política de, conhecendo tais factos, afirmar que o governo está coeso. Não, não está.

E é por tudo isso que eu não acho que uma moção de censura clarifica a atual situação. Se o centro da instabilidade e o que motivou as demissões e o rompimento dos acordos foi a própria ação governativa a única moção que faria sentido era uma moção de confiança do próprio governo.

Esta diferença pode até parecer um pormenor, mas não é. Trata-se de colocar a responsabilidade em quem criou a atual instabilidade. E, por tudo o que tem sido dito, parece-me mais que óbvio que esta responsabilidade é inteiramente do atual Governo Regional.

 

(Crónica escrita para Rádio)