Esta semana, o presidente do governo dos Açores concedeu uma entrevista a este jornal. José Bolieiro está desde o dia 8 a promover várias iniciativas para tentar virar a página da crise política regional e relançar a ideia de estabilidade na governação. Até agora todas as diligências foram infrutíferas. A crise mantém-se na atualidade noticiosa. A entrevista falhou no seu propósito por quatro razões essenciais.
A primeira é por ter sido centrada no passado recente e no presente. O registo foi justificativo e defensivo. Faltou visão, ideias. Reforçou a perceção que o governo não olha em frente e não prepara o futuro. A prioridade é sobreviver mais um dia, todos os dias.
A segunda é um erro recorrente em vários governantes: o autoelogio. Elogiar em causa própria a “humildade”, a “transparência” e o ser-se “democrata” é um vitupério. Na vida pública esses atributos não se proclamam, praticam-se. Devem ser observados e apreendidos pelas pessoas através da ação dos governantes.
A terceira razão é o ato de fé com que é apregoada a estabilidade. Não corresponde à realidade. Não cola perante as polémicas recorrentes em torno da instabilidade, dos problemas de liderança e dos conflitos na coligação. Gera rejeição e projeta a sensação de um governo limitado, com receio do parlamento. Estará em causa o “regular funcionamento das instituições”?
Por último, a questão mais sensível e comentada em todo o lado. Bolieiro resolveu abordar a questão da incapacidade da sua liderança autoproclamando-se como “líder inequívoco” do governo. Indo ao ponto de salientar que “quer o líder do CDS-PP, quer o líder do PPM, já demonstraram por várias vezes e de forma pública quem é que lidera e o respeito que têm pela minha pessoa”.
Em política só existe uma justificação para alguém se autopromover a líder inequívoco. É precisamente existir um flagrante equívoco e uma fundada dúvida sobre quem efetivamente manda.