No último ano e meio, os açorianos viram o custo de vida aumentar significativamente – o cabaz de compras, os combustíveis, o aumento das prestações do crédito à habitação ou das rendas - fazem com que hoje as famílias reequacionem as suas escolhas, tendo de sacrificar opções que até então eram, tranquilamente, asseguradas.
Se é verdade que podemos abdicar de algumas destas escolhas, pese embora o impacto que estes cortes no orçamento familiar têm na economia regional, também é verdade que cortar nas despesas básicas é difícil, chegando a um ponto em que as famílias, pura e simplesmente, deixam de ter margem de manobra.
Os açorianos confrontam-se com dificuldades efetivas e de nada vale tentar branquear esta realidade. Tem sido por demais evidente o esforço do governo regional em transmitir uma mensagem de que está tudo bem e de que temos estabilidade, quando o nosso quotidiano mostra-nos exatamente o contrário. Basta reparar nas contradições flagrantes entre o discurso do presidente do governo regional, que nestes dias inundaram a imprensa regional, e as mais diversas notícias que esta mesma imprensa veicula. Chegou ao cúmulo, veja-se, de numa mesma folha de jornal podermos ler “Melhorámos as condições sociais com políticas públicas revolucionárias e reformistas”, citando o Presidente do Governo Regional, e no seu verso termos como título “Bispo de Angra apela à ajuda a famílias em dificuldades”. Afinal, em que ficamos?
Em linha com o apelo feito pela Diocese de Angra, temos assistido aos alertas do Banco Alimentar e da Cáritas para que se atente ao aumento significativo dos pedidos de ajuda, um sinal claro de que não está tudo bem. Afinal onde estão as tão apregoadas melhorias?
Ainda na passada semana, os dados publicados no Barómetro da DECO/PROTESTE confirmam que 8 em cada 10 açorianos vivem hoje com dificuldades financeiras. Afinal, andamos todos errados e apenas o governo regional vê melhorias das condições sociais?
E falar de políticas públicas revolucionárias e reformistas? Quais? Onde estão as tão apregoadas melhorias? Veja-se o exemplo flagrante do programa CreditHab, programa de apoio ao crédito habitação, criado após reprovarem uma proposta com o mesmo objetivo apresentada pelo PS em novembro passado. O CreditHab foi criado em janeiro com critérios de acesso tão restritos que adulteram aquele que deveria ser o seu impacto: ajudar as famílias que enfrentam graves dificuldades com a subida das prestações do crédito à habitação.
O PS ainda propôs na Assembleia Regional alterar estes critérios, como por exemplo, a taxa de esforço passando de 50% para 36%, com o objetivo de tornar o programa acessível a mais famílias açorianas. Mais uma proposta rejeitada pelos partidos da coligação. Da forma como está definido não passa de propaganda. Anunciam 1 milhão de euros para a medida, mas na verdade a sua configuração não permitirá que este montante chegue às famílias.
De acordo com o anunciado, e até ao momento, apenas 10 famílias são elegíveis nos moldes em que o programa está desenhado, variando o apoio entre os 27 e os 100 euros por mês, num período de 6 meses. Ou seja, o apoio para estas 10 famílias, no total dos 6 meses, ascende a cerca de 4407 euros. Prova provada que o anúncio de 1 milhão de euros para apoio às famílias face ao aumento do crédito à habitação mais não é do que propaganda. O programa apresenta critérios muito apertados, pelo que deixa muitas famílias açorianas de fora.
Este é mais um exemplo de um Governo Regional que insiste na propaganda, mas que é fraco na execução. A perder ficam, mais uma vez, os açorianos!