Ontem, quarenta e nove anos depois, celebrou-se abril. Celebrou-se o dia em que Portugal se livrou de um regime ditatorial e iniciou um caminho para instalação de um regime democrático centrado no povo.
Deu-se início a uma nova era em que todos, sem exceção, poderiam lutar pelos seus sonhos. Iniciou-se um caminho onde todos passaram a poder fazer parte.
Ontem, tanto se celebrou abril que até arruaceiros tiveram a liberdade de se manifestar, mesmo desrespeitando as próprias instituições democráticas. Isso também é abril, independentemente de se achar que tenha sido só uma certa falta de educação.
Não nos esqueçamos que abril também é colocar a democracia e as próprias instituições democráticas acima de qualquer ideologia ou de qualquer convicção pessoal e faz-me confusão, faz-me muita confusão, ver quem conscientemente assuma o contrário destes princípios como forma de estar na sociedade e na política.
Cuidado com os saudosistas dos outros tempos. Muito cuidado com o regresso daqueles que foram derrotados em abril de 1974. Cuidado com aqueles que, só por serem do contra, alimentam inconscientemente aqueles que sempre acharam que o estado e o País eram melhores se fossem só para alguns. Aqueles que acham que as oportunidades deveriam ser só para alguns: as pessoas de bem, como lhes chamam. Atenção aos saudosistas do tempo em que o berço onde se nascia definia as qualidades de alguém.
É comum dizer-se que abril ainda não se cumpriu e é natural que se sinta esse incumprimento. Abril não foi nem é o fim. Abril foi o início. Abril tem de ser cumprido para sempre!
No dia que acharmos que cumprimos abril damos um claro sinal de incapacidade e de falta de ambição e isso, caros ouvintes, será uma porta escancarada para que os tais derrotados de abril voltem a fazer de Portugal um País só para alguns.
(Crónica escrita para Rádio)