Opinião

Pouco Açores e muito Continente

Foi em junho de 1980, sob proposta inicial do Grupo Parlamentar do Partido Socialista de então, que foi aprovado na Assembleia Regional dos Açores, o Dia da Região Autónoma dos Açores.

O objetivo era claro: a revolução tinha sido poucos anos antes, estávamos na I Legislatura e era preciso destacar a nossa identidade e também o povo que ajudou defini-la enquanto símbolo dentro da própria nação portuguesa.

Àquela data esperava-se a conclusão do Estatuto Definitivo que, segundo descrevia a proposta de Decreto Regional era o “culminar de uma acção histórica que vem do princípio do século XIX e que teve a sua primeira concretização em 2 de março de 1895”.

Os proponentes de então eram muito claros porque, não negando a identidade portuguesa dos Açores, era mais do que justo celebrarmos a nossa açorianidade relevando os nossos costumes, as nossas tradições, o nosso povo e sobretudo os feitos conseguidos em nome de um bem maior que eram e continuam a ser os Açores e o seu povo.

Por isso mesmo é que todos os anos, nesse dia especial, se celebra aquilo que nós fomos, aquilo que nós somos e aquilo que pretendemos ser. É por tudo isso que, nesse dia especial, se condecoram entidades e pessoas que pelos seus feitos e pelos seus serviços, se destacaram no contributo para o tal bem maior.

O Dia da Região não pode ser o contrário disso. O dia da Região deve ser muito sobre nós e muito pouco sobre os outros. O Dia da Região deve continuar a ser muito sobre aquilo que fazemos, muito sobre aquilo que pretendemos fazer, muito sobre aquilo que está ao nosso alcance fazer e muito, mas muito pouco sobre aquilo que outros podem fazer por nós.

Que nunca se caia na tentação, tal como fizeram os partidos da coligação este ano, de transformar o Dia dos Açores num dia com pouco Açores e muito Continente.

 

(Crónica escrita para Rádio)