Na última reunião do Conselho de Ilha em que participou o governo regional, José Manuel Bolieiro avançou com alguns números para tentar justificar que a Graciosa estava melhor.

Números são números, no entanto é preciso ver o seu contexto por isso importa revisitá-los. Hoje vou debruçar-me sobre a pesca.

O presidente do governo assinalou um crescimento de 52%, relativamente ao rendimento das capturas de pescado na Graciosa, entre janeiro e agosto, quando comparado com igual período de 2022.

Neste período a lota da Graciosa transacionou 1,6 milhões de euros, no entanto, vendo mais em detalhe, verificamos que só em lula, nesse mesmo período, as receitas foram na ordem dos 919 mil euros e, como é de todos conhecido, essa espécie foi capturada quase na sua totalidade por embarcações que vieram de S. Miguel, para onde irão as receitas, com toda a certeza.

Assim sendo, e tendo em conta que em igual período de 2022, as lulas valeram nesta ilha apenas 66 mil euros, é fácil fazer a conta para se chegar à conclusão de que a satisfação demonstrada pelo presidente do governo é um exagero.

A verdade nua e crua é que os pescadores Graciosenses ganharam menos e, mais grave ainda, o mar ao redor da Graciosa sofreu um redobrado esforço nas capturas na ordem dos 96%, devido à desastrosa gestão que a Secretaria Regional do Mar e Pescas está a fazer naquela comunidade piscatória, nomeadamente, com a aplicação de um regulamento do porto de pescas diferente do que foi consensualizado com os pescadores locais.

Numa altura em que se prepara o alargamento das reservas marinhas, este caminho é um contrassenso e só demonstra incompetência, ainda para mais, quando se sabe que os pescadores Graciosenses sempre foram lestos a proteger os seus recursos, nomeadamente, gerindo as pescarias de modo a garantir um bom preço e a optar por medidas precaucionarias mais exigentes do que as oficiais.

Em resumo, os pescadores da Graciosa perderam relativamente aos últimos anos e, pior ainda, estão a ver o mar ao redor da ilha debaixo de grande pressão, curiosamente, num momento em que se discute precisamente o seu contrário, por isso, a satisfação do presidente do governo, relativamente às pescas, é absurda e denota falta de conhecimento do que se passa nesta ilha.