Opinião

“Anti-açoriana”?

Quando um membro do Governo da coligação acusa a oposição de ser “anti-açoriana” revela desespero, intolerância e um perigoso desvio à saudável troca de ideias que deve nortear o debate político. Quando o Presidente do Governo afirma que a inviabilização do orçamento é uma “politiquice” da oposição para, logo de seguida, se manifestar interessado em dialogar para apresentar uma segunda proposta, cai numa inevitável contradição. Primeiro, porque ninguém percebe porque não dialogou antes para evitar o chumbo. Depois, porque quem quer dialogar não ataca os seus interlocutores nem permite que os membros do governo cavem trincheiras em que de um lado estão os pró-açorianos e do outro os “anti-açorianos”. Perante tanta crispação e agressividade todos percebem não haver, na verdade, vontade de dialogar. À medida que a coligação dispara em todas as direções, a verdade é a primeira vítima. Defender que o Presidente da República só pode dissolver o Parlamento quando uma segunda proposta de Orçamento for chumbada é uma aberração política e jurídica. Nesta estratégia de vitimização, o Governo ainda não percebeu que é apenas vítima de si próprio.