Os Açores voltam a enfrentar um dos maiores desafios da sua história: como garantir que a nossa juventude permanece e prospere nas nossas ilhas? Essa pergunta, aparentemente simples, revela um conjunto complexo de problemas que estão interligados, nomeadamente a natalidade em declínio, a crise de habitação ou a fuga dos jovens para outras paragens em busca de melhores condições e oportunidades. Já passamos por isso e sabemos bem o que isso representa.
Nos últimos anos, um pouco por todo o mundo, as políticas de natalidade podem ter regressado ao debate num objetivo claro de aumentar o número de nascimentos e, com isso, assegurar a renovação geracional. No entanto, estas políticas muitas vezes ignoram um fator essencial: para que as famílias se sintam seguras para ter filhos, precisam de estabilidade, tanto económica como habitacional.
A falta de habitação a preços acessíveis é um obstáculo que pesa cada vez mais sobre os jovens, levando-os a adiar decisões familiares e em muitos casos a procurar alternativas fora das ilhas.
Um jovem, ou um jovem casal, que quer iniciar uma vida independente depara-se com rendas altíssimas ou com a falta de opções mais acessíveis gerando a frustração que, muitas vezes, leva à emigração.
A crise habitacional não é apenas uma questão de telhados, é uma questão de futuro. Se não conseguirmos proporcionar condições para que os nossos jovens se fixem, as políticas de natalidade, aqui ou qualquer parte do mundo, correm o risco de ser um paliativo sem efeito a longo prazo.
Portanto, juventude, natalidade e habitação não são temas isolados; são peças de um puzzle maior que pode definir como será o futuro dos Açores. Sem uma abordagem integrada, continuaremos a perder uma parte vital da nossa população – os nossos jovens. E, com isso, pode perder-se o sonho de um futuro mais próspero.
(Crónica escrita para Rádio)