A visita da comitiva de Timor-Leste à nossa ilha, encabeçada pelo primeiro-ministro, o ilustre Xanana Gusmão, foi um momento muito especial para todos aqueles que conhecem a história daquele país e, sobretudo, para quem tem ligações afetivas com aquele ex-território português. A cultura timorense é uma mistura das influências portuguesas e indígenas. O português e o tétum são as línguas oficiais do país. Portanto, ainda hoje é evidente a influência portuguesa naquele jovem país e a estreita ligação que perdura e, em algumas áreas, se fortalece entre os dois países.
Foi colonizado por Portugal no século XVI e permaneceu sob domínio português até 1975. Após um breve período de independência, foi invadido e anexado pela Indonésia. Após décadas de conflito e resistência, um referendo supervisionado pela ONU em 1999 resultou numa esmagadora votação a favor da independência. Timor-Leste tornou-se oficialmente independente em 20 de maio de 2002. Todo este processo foi acompanhado com imensa emoção pela população portuguesa e pelos seus dirigentes políticos, liderando várias iniciativas com vista à independência daquele país, com especial destaque para António Guterres.
Mas o principal ator da história recente de Timor-Leste é, sem qualquer dúvida, Xanana Gusmão, resistente e resiliente que lutou pela independência do seu país e pelo bem-estar do povo maubere. Juntamente com Ramos Horta e com o Bispo Ximenes Belo, para além da diplomacia internacional, foram os responsáveis pela conquista da independência do país em 2002.
Hoje, o país enfrenta diversos desafios em termos de desenvolvimento económico e social. As infraestruturas do país ainda estão em fase de desenvolvimento e há uma necessidade crescente de investimentos na educação, na saúde e em infraestruturas básicas, tal como a gestão de resíduos e o saneamento básico.
A estabilidade política e a luta contra a corrupção são outras áreas críticas para o progresso contínuo da nação.
Aquele país tem um enorme potencial económico, sustentado nos seus recursos naturais, na agricultura, nas pescas e no turismo. A tudo isto, há o reconhecimento dos seus responsáveis políticos para a necessidade de se desenvolverem parcerias com organizações internacionais e com outros países, para o incremento de recursos e conhecimentos técnicos para o desenvolvimento de novos projetos.
Foi, precisamente, com este intuito que se realizou a visita da comitiva à nossa ilha, incidindo numa área que nos é mutuamente relevante – o Mar. Tanto os Açores como Timor-Leste têm economias que dependem fortemente dos recursos marinhos. A pesca, por exemplo, é uma atividade económica vital, com potencial para desenvolvimento sustentável através de práticas de pesca responsáveis e do desenvolvimento da aquacultura.
A nossa ilha, através do Okeanos (Universidade dos Açores) e da própria Escola do Mar, tem a capacidade e a competência técnica para formar profissionais aptos a exercerem as mais variadas funções no âmbito da Economia Azul, fator determinante para futuros acordos com Timor-Leste.
Eu, enquanto timorense, senti um enorme orgulho por ter Xanana Gusmão na nossa ilha e, enquanto faialense, vislumbro uma oportunidade fantástica para expandirmos o nosso know-how nas ciências do mar e na formação de ativos para as pescas e para a aquacultura, entre outras áreas da economia do mar.