No dia 17 de outubro, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, e nos dias que o seguiram, os indicadores de pobreza nos Açores foram dissecados. Embora a análise de dados seja uma ferramenta importante, essa abordagem frequentemente assume um tom frio e distante diante de um problema que é, antes de tudo, profundamente humano. Por detrás de cada número há pessoas, famílias e vidas com dificuldades que vão muito além do que as estatísticas expressam.
A pobreza não é um conceito abstrato. Ela compromete a dignidade humana e manifesta-se no acesso limitado a uma educação de qualidade, na precariedade do mercado de trabalho, nas dificuldades para obter cuidados de saúde e na exclusão social. São estas cicatrizes, invisíveis nos números, que fazem parte do dia a dia de milhares de açorianos. Cada uma representa uma barreira à dignidade, à liberdade e à igualdade de oportunidades — princípios fundamentais que deveriam sustentar a nossa sociedade.
O combate à pobreza exige, acima de tudo, um compromisso com a criação de oportunidades. A célebre frase do filósofo britânico Richard Tawney, “a verdadeira igualdade de oportunidades depende não só de uma estrada aberta, mas também de um ponto de partida igual”, resume bem esta questão. A estrada pode estar acessível a todos, mas se o ponto de partida não for justo, a igualdade de oportunidades permanecerá uma ilusão.
Este cenário exige uma resposta mais assertiva e efetiva no combate à pobreza. No entanto, a explicação dada pela Secretária Regional da Saúde e Segurança Social de que a falta de avanços se deve ao incêndio no Hospital do Divino Espírito Santo é, no mínimo, inadequada, roçando o insulto. Podemos aceitar que a crise no setor da saúde sirva como justificação para a estagnação ou abandono de políticas sociais cruciais? Essa declaração não é mais que a declarada incapacidade do governo de enfrentar múltiplos desafios, relegando o combate à pobreza para segundo plano.
Nos Açores, a ausência de um plano estruturado nesta matéria é clara. Áreas essenciais, como educação, formação profissional e o desenvolvimento económico das ilhas mais pequenas, têm sido negligenciadas, agravando desigualdades.
A pobreza não é uma questão secundária. Precisamos de ações concretas que garantam a todos os açorianos uma verdadeira oportunidade de prosperar, independentemente do ponto de partida.