Para muitos cidadãos, o Plano e Orçamento pode parecer distante, técnico ou até irrelevante. No entanto, não é apenas um conjunto de números e intenções abstratas. Trata-se de um documento que define o caminho a seguir para resolver problemas concretos, como a saúde, a educação, os transportes, a criação de emprego ou, ainda, a preservação do ambiente. São decisões que afetam, direta e profundamente, a vida de cada açoriano, desde as famílias que enfrentam dificuldades económicas, até os jovens que procuram oportunidades para permanecer e prosperar na sua terra.
Em regiões como os Açores, onde as desigualdades se fazem sentir com maior intensidade entre ilhas e populações, o Plano e Orçamento não pode ser encarado como um exercício meramente técnico. Deve ser um compromisso político com quem mais precisa, um instrumento capaz de enfrentar questões estruturais e promover uma visão de futuro.
Michael Sandel, no livro A Tirania do Mérito, alerta que “a “arrogância” das elites instruídas da sociedade, combinada com a “humilhação” dos deixados para trás, criou um cocktail perigoso e até explosivo de descontentamento”. É justamente aqui que reside o perigo: a perceção de que decisões cruciais são tomadas sem diálogo, sem empatia e sem levar em conta as necessidades reais das pessoas.
É essencial que os eleitos tenham consciência de que os debates em torno do Plano e Orçamento são mais do que uma formalidade parlamentar. São momentos de prestação de contas, de transparência e de construção de confiança. Estes documentos não devem refletir apenas as prioridades de um governo, mas sim responder aos anseios da sociedade, com base numa visão clara de justiça e igualdade. Isso exige ouvir as populações, compreender as suas necessidades e trabalhar para reduzir as disparidades sociais e económicas que ainda dividem a nossa região.
A forma como discutimos, implementamos e avaliamos esses documentos determinará se estamos a construir uma sociedade mais justa ou a perpetuar ciclos de exclusão e descontentamento.
Que não nos deixemos cair na arrogância ou na indiferença. Que tenhamos sempre presente que cada número e cada decisão nesses documentos representam vidas, sonhos e desafios dos açorianos. Só assim poderemos evitar o “cocktail perigoso” e construir uma sociedade onde todos se sintam parte de um futuro comum.