Opinião

(re)Pensar a Educação

A Educação continuou a ser um dos maiores desafios com que nos confrontamos, na nossa Região, ao longo do ano de 2024. Julgo ser inegável a constatação de que persistem desigualdades marcantes, até mesmo entre as 9 ilhas do nosso arquipélago, que inevitavelmente têm impactos profundos e tangíveis na vida dos estudantes e nas suas perspetivas de futuro.

É impossível ignorar que muitas escolas continuam a funcionar em condições precárias, consequência da falta de infraestruturas adequadas, de materiais didáticos atualizados e, sobretudo, de uma dificuldade quase crónica em atrair e reter professores qualificados. Em contrapartida, outras escolas, situadas nas ilhas maiores, beneficiam de mais recursos e oportunidades. Este fosso é um reflexo doloroso das desigualdades históricas que teimam em persistir, criando barreiras à igualdade de oportunidades, perpetuando assim ciclos de exclusão social. Quem estuda numa ilha menos favorecida parte muitas vezes de uma posição de desvantagem que nem o seu esforço individual consegue superar.

Outro desafio significativo é a desconexão evidente entre o sistema educacional e o mercado de trabalho. O ensino técnico e profissional, que poderia ser um motor para o desenvolvimento económico regional, permanece subdesenvolvido e muitas vezes alheio às reais necessidades da Região. Este facto obriga muitos jovens a abandonar os Açores, não por escolha, mas por necessidade, em busca de melhores oportunidades no exterior. Este é um drama que vai além dos números e das estatísticas – é uma realidade que afeta famílias, comunidades e o próprio futuro do arquipélago. A emigração jovem não é apenas uma fuga de talentos; é também uma ferida aberta no tecido social e cultural das nossas ilhas.

A taxa de abandono escolar, embora tenha apresentado uma ligeira redução em 2024, continua a ser preocupante, particularmente em contextos de maior vulnerabilidade socioeconómica. As razões para o abandono escolar são complexas e multifatoriais, desde dificuldades financeiras até à falta de perspetivas motivadoras. No entanto, o que realmente falta são políticas abrangentes que consigam atacar as causas estruturais deste fenómeno e oferecer um verdadeiro suporte às famílias e aos estudantes.

2025 traz consigo mais 365 oportunidades para que os Açores tracem um caminho ambicioso e estruturado para superar os desafios na Educação, onde se incluam diferentes objetivos para atingir um mesmo fim, nomeadamente:

Garantir que todas as escolas, independentemente da sua localização, disponham de infraestruturas adequadas, acesso a materiais didáticos modernos e a condições que promovam a igualdade de oportunidades. Este passo requer investimentos substanciais e um compromisso político sério. Aproximar a Educação do mercado de trabalho, através da criação de cursos técnico-profissionais alinhados com as necessidades económicas e sociais da nossa Região, contribuindo assim para fixar os nossos jovens no arquipélago e promover o desenvolvimento económico local.

Diminuir o abandono escolar, através da implementação de programas abrangentes que abordem as causas profundas do abandono, desde o apoio financeiro às famílias até à criação de ambientes escolares mais inclusivos e motivadores.

Reforçar a formação contínua dos nossos docentes, garantindo-lhes o acesso regular a formação que os capacite para utilizar novas ferramentas pedagógicas e

para adaptar o ensino às realidades e necessidades locais.

Nunca é por demais relembrar que a Educação é o alicerce sobre o qual se constrói o futuro. Para os Açores, uma Região com uma riqueza cultural e natural única, investir na Educação significa garantir que as próximas gerações tenham as ferramentas e as oportunidades para realizar o seu potencial. Mais do que um desafio político, trata-se de uma missão que exige união, visão e um compromisso sincero com as nossas crianças e jovens.

Sem isso, a Educação continuará a ser uma limitação, quando deveria ser o grande motor do desenvolvimento do arquipélago.

O caminho para um futuro mais justo, sustentável e inclusivo exige liderança, visão e, acima de tudo, a participação ativa de todos os que chamam este arquipélago de lar. Que 2025 seja um ano de ações concretas e de avanços reais, para que possamos olhar para trás e dizer que aprendemos com os desafios de 2024.