Intervenção do presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, hoje, na cerimónia de apresentação pública do projecto do novo edifício da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo:
“A escrita está presente em todas as circunstâncias da vida. Ler é, pois, uma necessidade; a ler orientamos a aprendizagem, o conhecimento e a comunicação, e ler, é também, fruição.
Nas sociedades desenvolvidas contemporâneas – marcadas, em geral, por patamares de competitividade mais exigentes – a promoção dos indivíduos e o sucesso das organizações dependem, em crescente medida, da capacidade de ler, de estruturar e de utilizar a informação.
Infelizmente – devo reconhecê-lo – uma parte ainda considerável da nossa população permanece, hoje, à margem da leitura. Antigamente, ser analfabeto significava não saber ler nem escrever, isto é, não ter qualquer escolaridade. Nos dias que correm, o conceito de analfabetismo engloba não só a capacidade de ler mas também a capacidade de decifrar os textos úteis à vida quotidiana.
Diversos estudos demonstram que a frequência e a diversidade das práticas de leitura, na escola, na actividade laboral ou no lazer, são factores fundamentais e que a sensibilização e o gosto de ler se desenvolvem desde tenra idade, no seio da família. Há, pois, que melhorar o trabalho que desenvolvemos nas nossas ilhas, estimulando a actuação em rede entre as bibliotecas públicas e os arquivos regionais, com as escolas e entre estas, e, sobretudo, com as famílias e outras formas associativas locais agregadoras e dinamizadoras.
No cumprimento das missões de que estão investidas, foi, com essas preocupações, implementado pelas bibliotecas um conjunto de actividades com a finalidade de introduzir a leitura na vida dos açorianos. Já nos seus planos de 2006, as Bibliotecas Públicas e Arquivos da Região promoveram, de forma coordenada, actividades com particular incidência entre a população dos 2 aos 15 anos, visando atingir não só o público em idade escolar mas também as famílias e com os fins específicos de:
- criar e fortalecer hábitos de leitura desde a primeira infância;
- estimular a criatividade nas crianças e jovens, e o apreço por outras áreas expressivas e pelo saber;
- promover o conhecimento sobre a herança cultural e apoiar a tradição oral; e,
- facilitar o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e os meios de acesso a ela, incluindo os informáticos.
Tem sido um trabalho contínuo e muitas vezes pouco visível, mas, sem dúvida, excepcionalmente intensivo. Mais de duas centenas de acções foram promovidas, em que participaram mais 82 mil pessoas e o número de utentes nas bibliotecas ascendeu a 174.523. Bem reveladores são estes números do esforço que está sendo levado a cabo pelo Governo dos Açores, através da Direcção Regional da Cultura, e que conta com a capacidade dinamizadora e o empenho das direcções dos organismos culturais públicos e dos seus quadros técnicos.
Temos desenvolvido, igualmente, outras formas de cativação dos públicos. A titulo de exemplo, refiro a extensão da Ludoteca e Biblioteca Infantil na Vila de Rabo de Peixe, serviços específicos como o da disponibilidade do fundo Braille na Biblioteca Pública de Ponta Delgada e a cooperação entre a Biblioteca Pública de Angra do Heroísmo e os serviços de Pediatria do Hospital da cidade.
No âmbito da difusão do saber, através do recurso às novas tecnologias, a actividade desenvolvida pelo Centro de Conhecimento dos Açores, com conteúdos diversificados disponibilizados na Internet, tem sido marcante, tendo iniciado a constituição de uma Biblioteca Digital, de modo a facilitar o acesso a obras raras. Trata-se de um projecto que já mereceu os melhores elogios, designadamente do Desk Officer da Direcção-Geral da Política Regional da Comissão Europeia, tomando-o como um exemplo de boa prática e de, cito, “excelente utilização dos fundos estruturais”
Também inovador é o mais recente equipamento cultural da Região – a Morada da Escrita/Casa Armando Côrtes-Rodrigues, que alia as componentes da biblioteconomia e da museologia, nela confluindo, através de equipamentos sofisticados, outras áreas da comunicação e da expressão, numa tentativa de melhoria da atractividade dos textos literários e dos autores açorianos. Um equipamento semelhante está, aliás, a ser projectado com localização em Angra do Heroísmo.
No que concerne a equipamentos, há que aludir o facto de, finalmente, no passado dia 19 de Janeiro, ter sido assinado o protocolo de intenções entre a Direcção Regional da Cultura, o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e os municípios de Vila do Porto, Lagoa, Ribeira Grande, Vila Franca do Campo e São Roque, criando-se as condições para o arranque da Rede de Bibliotecas Públicas Municipais. Contudo, o Governo Regional, antecipando essa programação, vai, dentro de poucas semanas, iniciar as obras de adaptação da Casa Pimentel de Mesquita, em Santa Cruz das Flores, cedendo, posteriormente, a biblioteca, que aí vai ser instalada, àquele município florentino, o que se prevê para os finais do corrente ano.
Saliento, por fim, a conclusão, em 2007, da Biblioteca Pública e Arquivo Regional da Horta – um equipamento essencial à promoção e à dinamização culturais na ilha do Faial, cujo investimento global ascende a 5,5 milhões de euros.
Tenho, pois, razões para sentir satisfação pela forma mais rápida e abrangente como tem vindo a funcionar a Direcção Regional da Cultura, aliás, não apenas nestes domínios da difusão do livro e da leitura, como nas outras vertentes das suas atribuições, e são muitas, correspondendo bem aos objectivos e aos acrescidos recursos técnicos e financeiros que passou a dispor desde o início de 2005.
A razão por que aqui nos encontramos hoje decorre, exactamente, dessa nova dinâmica: procedemos, neste dia, à apresentação do projecto da nova Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo. É mais uma importantíssima obra na Terceira e mais um compromisso, que assumi, a caminho de ser cumprido, podendo-se, com segurança, estimar que no final deste ano estarão criadas as condições para o lançamento do concurso para a sua construção.
Trata-se, é certo, de um avultado investimento, que rondará os 10 milhões de euros, mas acarinhei este projecto convicto de que a Cidade Património merece, neste local escolhido para implantação da Biblioteca Pública e Arquivo Regional, um imóvel marcante da arquitectura contemporânea, reformulando e valorizando o aparato urbanístico, retirando a fealdade de pavilhões pré-fabricados, já que, com a construção da Escola de São Carlos, é possível formular uma outra estética para esta área da cidade, entre dois aglomerados urbanos peculiares – o Corpo Santo e a zona das avenidas.
Pensamos, assim, ao dar a conhecer o projecto da nova Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, que é importante sinalizar, com este edifício, o património do futuro. Pela qualidade dos materiais, pela capacidade inovadora da concepção, pela originalidade da proposta, este equipamento cultural ficará marcando a cidade de Angra do Heroísmo, respondendo às exigências do século XXI, renovando o vocabulário arquitectural herdado dos séculos precedentes e permitindo aos angrenses e aos açorianos a reflexão sobre a responsabilidade comum dos legados recebidos e a transmitir aos vindouros.
É preciso fazer, mas é necessário fazer bem.
Salvo melhor opinião, acho que é isso que vai acontecer. Parabéns a Angra. Parabéns à Terceira.”
GaCS/JSF