Ao longo dos últimos dias, assistimos a um triste espetáculo de irresponsabilidade, de arrogância e de desprezo pelos portugueses por parte da coligação PSD-CDS/PP.
À incapacidade desses partidos de unirem o País à volta de um desígnio comum, como seria, por exemplo, a criação de emprego, juntou-se a incapacidade de manterem as aparências da sua união.
Não nos iludamos. Não são as demissões dos Ministros das Finanças e dos Negócios Estrangeiros que são a causa da instabilidade.
Elas são, sim, a consequência das divisões, das rivalidades e das guerras que afetam a coligação PSD-CDS/PP, que prejudicam o País e que causam danos irreparáveis às famílias e às empresas portuguesas.
O primeiro facto que gostaria de realçar a este propósito é o da sabedoria do Povo Açoriano que, nas últimas eleições legislativas regionais, deu um sinal inequívoco de apoio ao Partido Socialista dos Açores como fator de estabilidade e de governabilidade.
É, assim, desde logo fruto da maioria absoluta que as Açorianas e Açorianos confiaram ao Partido Socialista que não temos aqui nos Açores as mesmas guerras, as mesmas birras e o mesmo triste espetáculo que se vive no Continente entre o PSD e o CDS/PP.
Se, porventura, existissem dúvidas, a última semana foi esclarecedora: PSD e CDS/PP em coligação foram, são e serão sempre um “saco de gatos” e o Partido Socialista dos Açores afirma-se como um referencial de estabilidade, de confiança e de serenidade no cumprimento do mandato que o Povo nos confiou.
É isto que o passado recente comprova e o comportamento dos protagonistas atesta.
No meio da “guerra do alecrim e da manjerona” em que se transformou a coligação PSD-CDS/PP, aquilo que se percebe, aquilo que está em causa, por muito que tentem disfarçar, é algo tão simples como isto: esta crise começou com uma guerra de cadeiras, e, pelos vistos, para que termine, bastará uma troca de cadeiras.
E na situação em que o País está, quando se exigem tantos e tantos sacrifícios, este é um dos maiores insultos que se podem dirigir às famílias e às empresas.
São dois anos de sacrifícios, de esforços, de angústias e de desespero de tantas e tantas famílias que foram, pura e simplesmente, mandados para o lixo pela irresponsabilidade do PSD e do CDS/PP.
A pretensa solução ontem apresentada é mais do mesmo. No fundo, é mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma.
Mas esta operação cosmética apresenta riscos demasiado sérios de causar mais prejuízos do que benefícios, e, assim, ser mais um ato falhado da coligação PSD-CDS/PP prejudicial para o País e para os portugueses.
Em primeiro lugar, do que se sabe, não estamos a falar de um governo novo, mas de um governo remendado com os destroços do governo anterior.
Depois, o problema principal não é o da estabilidade interna dos dois partidos. A questão que as demissões puseram em causa foi a da legitimidade e autoridade do Governo da República para exigir sacrifícios aos portugueses, quando estes perceberam, esta semana, que tudo isto pode ser desperdiçado por uma guerra de lugares e pelas birras internas desse grupo formado pelo PSD e pelo CDS/PP.
O que se quebrou definitivamente foi esse reconhecimento mínimo de autoridade e de legitimidade do Governo PSD-CDS/PP para pedir sacrifícios.
E é isso que, sendo absolutamente essencial para a ação e credibilidade de um Governo, não é garantido pela solução ontem apresentada.
A isto acresce, por último, algo que é, também, essencial: a confiança dos Países que fornecem a ajuda financeira a Portugal.
Com efeito, na alegada solução apresentada ontem, o que sobressai no novo formato orgânico do Governo da República é colocar nas mãos de quem constituiu um dos principais protagonistas da instabilidade e da crise política matérias essenciais como o relacionamento com a troika ou a supervisão da gestão das finanças públicas. E esse é, claramente, um fator de suspeição e de erosão da confiança externa indispensável, sobretudo, no atual momento.
Por tudo isto, é que a pretensa solução ontem apresentada não resultará.
Infelizmente não resultará para este Governo e, infelizmente, não resultará para Portugal.
Será mais um fator de instabilidade interna e externa do que uma solução eficaz e duradoura.
É também por isso que, a única forma de se gerar, não só a possibilidade de uma nova solução de estabilidade governativa, mas, sobretudo, uma nova relação de confiança entre os portugueses e o seu Governo é através da realização de eleições, dando a palavra ao Povo e trabalhando para construir uma solução, estável, credível e verdadeiramente motivada para construir um novo futuro para o nosso País.