A deputada socialista Arlinda Nunes apresentou esta quinta-feira à Assembleia Legislativa dos Açores, em nome do PS/Açores, o seguinte voto de congratulação, aprovado por unanimidade, que se transcreve na íntegra:
Voto de Congratulação
A paróquia de Nossa Senhora do Rosário das Lajes das Flores realizou, no passado dia 28 de setembro, a sessão de abertura solene do Ano Jubilar no qual serão comemorados 500 anos de história cristã.
As comemorações desta celebração, a ocorrer durante um ano, iniciaram-se com a festa em honra de Nossa Senhora do Rosário, padroeira da vila, e que tiveram lugar entre os dias 3 e 5 de outubro.
Celebrar um jubileu é fazer memória do caminho percorrido, das conquistas alcançadas, dos obstáculos superados e perpetuar a história construída de um Povo.
Com efeito, a criação da paróquia de Nossa Senhora do Rosário remonta ao limiar do povoamento efetivo da Ilha, o mesmo é dizer, aos primeiros anos do século XVI.
Até 1676, data conhecida como a criação de duas novas paróquias, uma de invocação a Nossa Senhora dos Remédios, nas Fajãs, e outra em louvor de São Caetano, na Lomba, a Vila das Lajes das Flores abrangia até então o território que compõe atualmente todo o concelho, excetuando o lugar da Ponta da Fajã, na altura pertencente à paróquia de São Pedro, de Ponta Delgada.
Por meados do século XVII, altura em que Frei Diogo das Chagas escreveu o “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”, já a vila das Lajes das Flores celebrava como padroeira Nossa Senhora do Rosário, ainda que o mesmo autor recorde que outrora, esta, tivera por paróquia uma outra ermida do Orago do Espírito Santo.
A ermida primitiva, mencionada por Frei Diogo das Chagas na obra supracitada, situava-se segundo este autor e cito, “ao sair do porto, que é uma Calheta em que abicam barcos”, (fim de citação), local este, onde havia nascido, no princípio de quinhentos, a primitiva povoação.
Gaspar Frutuoso no seu Livro VI, escreveu que em Junho de 1587 a igreja foi queimada pela pirataria num ataque de cinco navios corsários ingleses, os quais destruíram, e cito, o “quanto acharam, queimando os templos todos e assolando as casas sem ficar uma só” (fim de citação) provocando desta forma a mudança do povoado mais para cima, fazendo-o construir a sua matriz onde atualmente se localiza o cemitério (segundo Nota do Autor chamada a Igreja antiga das Lajes ou de Nossa Senhora das Dores).
No início da segunda metade de setecentos, a Matriz apresentava sinais de ruina e de iminente degradação. A solução que se apresentou como mais viável para a sua manutenção, passou por uma demolição parcial, poupando a capela de Nossa Senhora das Angústias que, todavia, ficou a servir de Matriz.
É de todo importante referir que, a pedra proveniente desta demolição foi transposta para a construção do novo templo, erguido no lugar de Santo António, local da existência de um forte de Defesa de Costa, cujas ruinas ainda hoje existem e testemunham, de forma imponente, a história da vila das Lajes.
Finalmente, e pela terceira vez, a edificação da nova Igreja Matriz, encontrou a sua localização definitiva, como podemos comprovar em “História das Quatro Ilhas, Vol. III”, no qual Silveira Macedo faz referência como sendo, e cito, “um bom templo de duas torres e uma portada”, fim de citação, construída entre 1763 e 1783, figurando como vigário da paróquia, o padre António de Freitas Henriques.
Mas celebrar 500 anos de história cristã não se pode resumir a homenagear factos cronologicamente datados.
A Igreja, à semelhança do que aconteceu na história dos Açores, desempenhou um papel fundamental na história do povoamento do concelho e da ilha das Flores, extravasando amplamente as suas funções primordiais de afirmação e propagação da fé cristã, tendo desempenhado também um importante papel na educação e na formação da sociedade.
O seu papel evangelizador acompanhou as exigências de cada época e o evoluir dos tempos, continuando ainda hoje a exercer, como em todos os lugares, um papel fundamental na procura da resposta aos problemas presentes e na construção de uma sociedade digna, rica em valores morais e espirituais.
Ao longo das várias centenas de anos a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi objeto de várias intervenções de conservação e recuperação, das quais destaco, com particular orgulho e emoção, a última destas e cujas obras terminaram por volta do ano 2000.
De salientar que o mérito destas intervenções deve-se não só a todos os fiéis da paróquia de Nossa Senhora do Rosário, sejam os lá residentes, como os que, longinquamente permanecem ligados de coração à sua padroeira, como à edilidade e ao pároco responsável à data, Padre João Paulo Ávila Brasil. A salvaguarda e valorização do património arquitetónico, cultural e religioso existente veio reavivar não só a beleza singular da Igreja Matriz, como também fortificar os laços de fé cristã em que, com a sua presença enternecedora, a padroeira envolve e protege os seus fiéis.
Mas celebrar um jubileu é também e sobretudo, perscrutar o horizonte do futuro, estabelecendo novas metas e desafios.
Nesse sentido, termino realçando o tema escolhido para a celebração deste jubileu: “Reavivar a Fé recebida!” em que, Reavivar a fé significa dar força ao dom, que nos foi dado por Deus, enfrentando e combatendo os desafios de uma sociedade contemporânea, tendencialmente enfraquecida e esvaziada na fé cristã, redescobrindo assim, a alegria do crer e do essencial num mundo espiritual.
Assim, ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores a aprovação deste voto de congratulação pelo quingentésimo aniversário da paróquia de Nossa Senhora do Rosário das Lajes das Flores e que dele seja dado conhecimento a sua Excelência Reverendíssima, o Bispo de Angra Dom António de Sousa Braga, à Igreja da Ouvidoria das Flores, na pessoa do seu Ouvidor, Padre Davide de Jesus Rocha Barcelos, à Comissão dos Assuntos Económicos da paróquia das Lajes das Flores, à Junta de Freguesia das Lajes das Flores e por último, à Câmara Municipal das Lajes das Flores.
Horta, Sala das Sessões, 11 de dezembro de 2014
Som Arlinda Nunes